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Atualizado: 20 de ago. de 2020


A Redibra criou o R.Talks para oferecer aos seus parceiros e ao mercado um espaço de reflexão e inspiração, com visões sobre tendências e atitudes no momento delicado do COVID-19. A cada semana, o CEO da Redibra David Diesendruck entrevista um especialista nos mais diversos assuntos com uma live no Instagram da Redibra.

Para quem não teve a oportunidade de assistir a live com Daniela Graicar, CEO da Agência PROS e idealizadora do projeto ALADAS, resumimos os principais pontos abordados. O tema da live foi “Liderando no Caos”.

David: Qual o insight que fez com que você mudasse o seu olhar de public relations para people relations?


Daniela: Tenho visto que nós estamos voltando para o básico e gostar, entender e ser apaixonado por pessoas é uma volta às origens da comunicação. Temos que parar de pensar em clusters, públicos, para entendermos de pessoas. O que faz o olho de cada um brilhar? O que faz alguém escolher trabalhar num lugar ou com alguém? Sempre foi algo que nós achávamos natural, mas aos poucos percebemos que nossos clientes diziam que gostavam de trabalhar conosco há tantos anos porque, além do trabalho, somos “gente boa”. Os funcionários que estão conosco há 15, 10 anos, ou que foram construindo novas relações de trabalho ao longo do tempo… É muito gostoso ver que muitos foram clientes que se tornaram funcionários, depois cientes de novo, ou se tornam parceiros, fornecedores, mas nunca saem de perto.


Foi aí que percebemos que entender de gente, para nós, era uma virtude e que tínhamos a capacidade de atrair boas pessoas, de ajudar nossos clientes a olharem para eles mesmos e entender quais eram as pessoas que fariam bem para o seu negócio. De ajudar nossos clientes a enxergarem como poderiam engajar seus funcionários na sua causa, ou então como fazer com que eles ficassem mais satisfeitos e com vontade de dar um turbo em suas entregas no final do dia. É tudo muito simples, por ser essencial, ao mesmo tempo em que é complexo justamente por estarmos falando de pessoas. Agora, mais ainda. Na pandemia estamos vivenciando novas situações, por exemplo, como é liderar um time remoto? Como manter minha equipe concentrada em suas metas, sem o olho no olho? Como saber se todos estão bem, quem precisa de ajuda e não pede?


É tudo relacionado a pessoas e a entender o que move cada um. Quando ressignificamos o PR de public relations para people relations, foi para deixar isso claro para nós todos (clientes e funcionários). Nós temos que entender o que move cada um, porque o que me move e me faz feliz, com certeza vai ser diferente do que faz você feliz. Às vezes é fácil entender o que move uma pessoa – faz ela acordar feliz, olhar para a agenda e ficar entusiasmada –, mas o que fixa uma pessoa? O que faz com que aquela pessoa se fixe com seu trabalho, seu cliente, seus fornecedores? No fundo, a ressignificação que fizemos para o PR é uma provocação, para falarmos menos de públicos e mais de gente.


David: É uma forma de tirar a armadura das marcas e mostrar que têm pessoas por trás, certo?


Daniela: Exato. Hoje temos muitos dados, mas o que fazemos com eles? Esses dados na verdade nos dão munição para entender sobre pessoas. Quando traçamos uma estratégia de comunicação, para encantar pessoas, nós temos que interpretar e desconstruir os dados para chegarmos até as pessoas que estão por trás deles.


Ao invés de fazermos public relations, nós fazemos people relations e construímos reputação de marcas, que passa por entender o que essa marca quer dizer, com quem ela quer conversar e em que ambientes encontramos as pessoas com quem ela quer conversar. Quando ressignificamos a agência foi por percebermos que não estamos fazendo assessoria de imprensa nesses últimos 16 anos. Fazemos eventos, digital, uma série de atividades que sabemos empregar para que marcas e pessoas se encontrem para realizar um diálogo genuíno.


David: Você trabalhar com clientes de diversas áreas e, quando uma marca contrata uma agência de PR, eles têm a expectativa de começar a aparecer na mídia de alguma forma. Como vocês realizam o storytelling nesse contexto de marcas que querem ter mais relevância e qual conselho você pode dar para identificarmos o que é relevante.


Daniela: Nós realmente temos clientes de diversas áreas, para não atendermos concorrentes diretos, então abrangemos vários segmentos. Isso torna nosso trabalho muito rico, mas também desafiador.


Todo mundo acredita que sua história é a melhor história para ser contada no dia, então o primeiro passo do nosso processo de trabalho é entender as histórias para poder alinhar as expectativas. Nós ouvimos a marca, identificamos o que tem para ser contado e, com base na nossa expertise, vemos quais veículos poderiam se interessar por ela. Começamos a cruzar pautas e interesses para levar um plano para o cliente. É nesse momento que alinhamos as expectativas dele com relação à história e à forma ideal de comunicá-la.


Como não estamos comprando esse espaço e sim conquistando, não podemos fazer uma promessa assertiva ao cliente, muito menos garantir uma entrega exata de total de clippings em determinado período. O que podemos prometer é uma boa estratégia de pautas e relacionamento com todos os veículos que almejamos conquistar.


Trabalhamos diariamente com muitas variáveis que não controlamos. Muitas vezes temos uma pauta incrível construída e acontece algum desastre natural, uma morte, e aquela pauta cai. Vivemos nessas intempéries. Então, o que fazemos é ter um time que vai mergulhar em cada segmento que atendemos para conhecer as melhores histórias e verdades, construir pautas, alinhar com os veículos o interesse por essas pautas e, através de relacionamento, batalhar por um espaço para reportar e mostrar para o cliente valor dessa exposição de marca para a reputação.


É muito gratificante, pois vemos empresas menores que parecem gigantes por conta de um bom trabalho de PR. Empresas que poderiam estar atravessando grandes crises, mas conseguem passar por isso, pois conseguimos blindar e levar um olhar positivo sobre a situação, então a construção desses storytellings é a parte mais gostosa disso tudo. Temos muitos perfis diferentes entre os clientes, desde aqueles que acreditam que tudo que eles fazem é incrível e precisamos aterrissar um pouco essa expectativa até os que não percebem quão especiais eles são e aí precisamos fazê-los acreditar nisso e treinar o porta-voz dessa marca para transmitir isso de forma segura quando conseguirmos o espaço para ela.


Quando compramos um espaço de mídia, é muito claro. O veículo tem um uma página para vender e a marca compra essa página, mas o que fazemos é encontrar quem tem uma história para contar e fazer a ponte com quem tem o espaço para que ela seja contada. O nosso trabalho é fazer essa pontede canais entre emissor e receptor. É o que estamos fazendo aqui: você está me conectando com a sua audiência para eu contar minha história.


David: Como você vê a importância do endomarketing no momento atual?


Daniela: Voltamos ao início dessa conversa: precisamos gostar de gente e entender de gente. Não adianta ter uma meta na sua empresa se você não tiver as pessoas certas para entregar aquilo. E as pessoas certas hoje estão espalhadas pelo mundo inteiro, sua equipe não está cercada de você, das suas palavras, do seu olhar e da sua proteção.


Quando comecei a trabalhar com endomarketing ninguém entendia o que isso significava, na primeira crise era esse o corte que as empresas realizavam. Eu ouvia “para que engajar as pessoas, eu preciso vender para fora”. As coisas não funcionam mais dessa forma, quem dá eco ao que a empresa é, ao que ela se propõe e defende, é o público interno. Então, cuidar e comunicar-se corretamente com essas pessoas não é apenas um luxo. Os problemas de toda empresa costumam ser muito parecidos no que tange ao endomarketing: é falta de engajamento, redução de turnover, fidelização dos talentos… Pessoas não engajadas são custo, pessoas engajadas são receita para a empresa.


As pessoas precisam se conectar com sua marca, seu produto, sua causa e seu discurso. O que percebemos é que independente da empresa, todas tinham o mesmo problema – que também são sua virtude – lidar com essas pessoas e conseguir o melhor delas. O nosso papel é amparar os diretores no entendimento das suas mensagens-chave e escolher a melhor forma de fazer estas mensagens chegarem às pessoas certas, no momento ideal, propagando a cultura organizacional.


Nesse momento de pandemia algumas verdades começaram a voltar à tona, nós começamos a fazer as perguntas básicas porque as pessoas querem entender para que serve seu produto. O que você está fazendo que realmente é relevante para esse momento, qual causa você defende, que diferença seus produtos fazem dentro dessa situação, como você está tratando seus funcionários? Qual foi seu plano de ação na pandemia e como ele foi comunicado? Consistência na informação é a forma como ajudamos as marcas a manterem seus funcionários engajados. E engajadas, as pessoas vão entregar mais que o combinado e com prazer em realizar essa entrega.


A geração anterior, que era focada em comando-controle, “eu mando, você faz”, está acabando. As empresas que tratam seus colaboradores de forma top down não vão perdurar. É importante haver um discurso engajador e que leve sentido ao que as pessoas fazem. O endomarketing ajuda a comunicar tudo isso, a mostrar para o funcionário porque ele está trabalhando e a mostrar para toda a equipe que desde lá de cima a empresa tem um propósito, do qual ela faz parte. Um trabalho de endomarketing bem feito é simples e engajador.


Em momentos de crise eu vi, muitas vezes, o corte da comunicação interna, como se fosse apenas cortar confraternizações da empresa, mas é muito mais do que isso. Se você realiza cortes por conta de uma crise, você precisa que os colaboradores que ficaram queiram continuar e produzam por eles e por quem foi demitido. Para isso, é preciso que eles estejam tranquilos e engajados com a empresa e com suas entregas. Isso vai acontecer com consistência de informação, simplicidade, olho no olho e empatia.


As pessoas tendem a ver o copo meio vazio e a função do endomarketing é levar o copo meio cheio, sempre, todo dia.


David: Qual a melhor maneira das empresas se comunicarem com seu público durante o momento atual e quais cuidados elas devem tomar nessa comunicação?


Daniela: A empatia é a principal ferramenta para esse momento. Colocar-se no lugar de quem vai receber a informação e se perguntar, por exemplo, como eu me sentiria sabendo que uma marca vai patrocinar uma festa na casa de influenciador durante o período de isolamento quando ninguém pode sair de casa? Existem respostas que são básicas, mas outras nem tanto.


Meu dia a dia desde que o isolamento social começou tem sido bastante dedicado a ajudar as pessoas a pensarem sobre essas perguntas para não correr riscos. Na dúvida, correr riscos não vale a pena. A vida de um empreendedor, de um gestor, possui mais riscos do que 95% das pessoas. É como se eu estivesse jogando uma partida de tênis feliz, sob o sol, e alguém me manda sair da quadra, subir em um slackline, me equilibrar e atravessar para o outro lado. E a cada dia que passa, embaixo de chuva, temos mais um objeto para segurar, lá em cima do slackline.


Estamos sob uma série de intempéries que estão desandando nossa corda. Precisamos entregar resultados, ao mesmo tempo temos que decidir se participamos ou não das lives às quais somos convidados, pensar se nessa live alguém vai fazer uma pegadinha comigo e perguntar sobre um tema que eu não posso responder? Temos ajudado nossos clientes nesse sentido, pois ficar omisso nesse momento não é uma opção também. Ficar em silêncio sem dizer o que você está fazendo, o que você defende, como você tratou seus funcionários não são opções seguras ou recomendáveis.


Outro dia eu estava conversando com meus amigos e muita gente assinou o “Não Demita”, um pacto corporativo para não demitir os funcionários, mas conheço alguns CEOs de setores que não têm a menor condição de não demitir, o que não os torna más pessoas por isso, mas eles têm que lidar com essa realidade. Se estamos em uma tempestade, ela é a mesma para todos, mas a forma de atravessá-la não, cada um está em um barco diferente. Minha função como PR é ajudar meu cliente a entender em qual barco ele está, pois de acordo com o barco você tem que agir de uma certa maneira.


Primeiro você ajuda a si mesmo, para garantir que está inteiro para lidar com a situação, depois você ajuda quem estiver ao seu redor. As pessoas da sua casa e as pessoas que trabalham com você e entregam os seus resultados. Passado isso, você precisa começar a estender essa ajuda. O que eu vi muita gente errar a mão foi em não cumprir o que deveria como empresa, por exemplo, não pagando seus fornecedores em dia, mas começando a ajudar comunidades, instituições etc. Em primeiro lugar, honre os compromissos que você assumiu antes da pandemia, pois existe um ecossistema que depende dessa cadeia de pagamentos. Uma vez que seus compromissos forem honrados, aí sim você começa a estender a ajuda à sua comunidade e a causas que tenham a ver com os valores da sua marca.


Mais do que advisors, nosso papel nesse momento é ajudar nossos clientes a encontrarem as causas que podem fazer sentido na vida deles, porque aí eles farão isso de maneira mais completa, vão se sentir mais felizes e toda a roda começa a girar e isso se torna PR. Mas a questão é justamente não fazer pelo PR e sim porque é de verdade. Essa é minha dica, busque a sua verdade e não faça nada apenas por fazer. Estamos no momento das empresas olharem para dentro e perguntarem quem são, o que estão aprendendo com a pandemia e qual a nova maneira com a qual querem trabalhar. O PR é apenas a forma de dar eco às boas iniciativas que surgirem a partir daí.


David: Você iniciou o Movimento Aladas, poderia falar um pouco sobre?


Daniela: Eu fiz uma promessa para quando eu completasse meus primeiros 20 anos de empreendedorismo, que seria ajudar outras mulheres a fazerem o mesmo. Empreender é muito difícil, no Brasil é mais difícil ainda e, como mulher, isso ganha uma carga extra de complexidade. Eu sempre fui muito acolhida pelos homens e meu discurso sempre foi sobre criar pontes e entender o porquê dessas diferenças entre cargos de liderança masculinos e femininos.


Por que quando há 100 CEOs viajando, temos apenas 5 mulheres? Porque quando vemos palestras, eventos e painéis, há 4 homens e 1 mulher? Ou nenhuma mulher? Eu sempre fiquei um pouco curiosa a respeito dessas estatísticas e quando fui estudar sobre esse tema, descobri que é um problema muito maior de raízes culturais. Por exemplo, as mulheres têm 16% a mais de escolaridade do que os homens, mas lideram negócios que faturam 22% a menos. Ao mesmo tempo, as mulheres ainda são as cuidadoras oficiais do lar e com isso elas tem 17% a menos de tempo para se dedicar ao seu negócio, o que consequentemente gera um desempenho pior dos seus negócios.


Mulheres geralmente não conseguem funding, quando elas estão em um pitch, as perguntas que vêm dos investidores são perguntas de defesa, por exemplo, como você vai agir se o seu negócio der errado, enquanto para os homens perguntam como eles vão fazer para ganhar território. São muitos fatores nos quais eu não vou entrar em detalhes agora, mas o resultado é o seguinte, as mulheres empreendem quase em equidade com os homens, porém não entram em start ups, por exemplo.


O Movimento Aladas surgiu com um pensamento de equidade. O nome do projeto vem de uma lenda hindu que diz que para o pássaro voar reto e alto, ele precisa ter as duas asas estendidas. Então, homens e mulheres precisam performar juntos para a sociedade crescer. As tarefas domésticas e uma série de afazeres precisam ser melhor distribuídos para que as mulheres tenham tempo de performar.


Na minha visão, as asas também carregam o significado das soft e hard skills, não adianta você ter o conhecimento técnico e não saber nada sobre a parte socioemocional. O objetivo do Aladas é oferecer cursos gratuitos de soft e hard skills para que as mulheres desenvolvam essas habilidades e, também, networking. As lives que temos feito são para levar role models para as mulheres, quando pensamos em mulheres empreendedoras vêm 5 pessoas à mente, mas há muitas mulheres bacanas nesse papel e eu tenho trazido essas histórias. Precisamos abrir o nosso leque de referências. É um projeto que vai formar e encorajar essas mulheres e fazer com que a gente tenha uma sociedade mais equilibrada.


David: Eu li seu artigo na Meio e Mensagem, sobre como você lida com o seu tempo. Quais dicas você pode compartilhar com a gente sobre como você organiza seu dia a dia, sendo empreendedora, mãe e esposa?


Daniela: Eu acho que a primeira constatação é que em algum momento um dos pratos cai. Então vamos tirar esse mito da mulher perfeita, mas ainda assim, eu faço muita coisa no meu dia e para isso funcionar, fui aprendendo a criar alguns processos para que isso seja viável. Pra começar, eu acordo muito cedo pra ter mais tempo para leitura, para assistir a uma série com meu marido, para brincar com os meus filhos. Quando são 8h, eu já fiz tudo isso.


O nome do artigo que saiu na Meio e Mensagem é “Minha agenda, minha escova de dentes”, ele surgiu de uma brincadeira que eu faço, pois sempre ouvi de muitas pessoas, quando eu precisava agendar alguma reunião, a frase “fala com minha assistente, com minha secretária”. Eu sempre pensei que se tem uma coisa de que eu não abro mão, é da minha agenda. Eu não a empresto para ninguém, porque eu sei minhas prioridades, ela pode estar inteira ocupada para as próximas semanas, mas quando eu recebo um convite, eu sei o que pode ser adiado ou cancelado. Não é possível que todos os meus to dos tenham o mesmo peso, então como outra pessoa poderia ter noção das prioridades que você tem na vida? Na minha visão, terceirizar sua agenda é terceirizar uma responsabilidade sobre você mesmo.


Outra coisa que eu faço, é pintar as diferentes áreas da minha vida no Outlook. Por exemplo, tudo que tem relação com o meu cérebro (cursos, coach, leituras etc) eu pinto de amarelo, o que é com meus filhos eu pinto de rosa, com meu marido, de vermelho e o que for relacionado a trabalho, pinto de azul e o que é sobre mim (jogar tênis, encontrar minhas amigas, ir ao cabelereiro) eu pinto de cinza. Quando eu bato o olho na agenda, tendo essa disciplina para todas as tarefas, consigo ver o que está faltando na minha semana. Outro dia meu marido olhou e disse que estava faltando vermelho na minha agenda, e ele tinha razão. Para mim a agenda não é apenas para compromissos com os outros, mas sim a maneira como eu organizo meus compromissos comigo mesma. Isso é algo que eu faço há dez anos e me ajuda a compensar e equilibrar minha vida.


O fato de ser empreendedor e dono do seu tempo é uma faca de dois gumes. Você trabalha mais, tem problemas de diversas ordens para lidar, que muitas vezes são invisíveis (contadores, advogados) e precisamos tomar muito cuidado com isso, principalmente estando em casa. A chance de você se perder em suas tarefas e trabalhar mais é enorme, então como podemos equilibrar pesos e medidas? Converso muito com meu marido sobre isso, principalmente no momento atual, em que trabalhamos o dia inteiro dentro de casa, juntos. Agora ele está em um call na sala e eu falando com você na cozinha. Estamos confinados, mas não posso perder minha rotina. Se eu tiver que andar, eu vou andar, se eu tiver que fazer yoga, eu vou fazer yoga. Para mim, o dia não vai acabar enquanto eu não fizer aquilo a que eu me propus. O resumo é não delegar o indelegável, que é o controle do seu dia, inclusive no site do Aladas nós temos um curso gratuito sobre produtividade, no qual eu dou 10 dicas para quem quer ter um dia mais produtivo, eu fiz questão de compartilhar meus aprendizados.


David: Você tem alguma dica de referências de inspirações que você costuma utilizar?


Daniela: Tem uma frase que me move: “se você é o mais inteligente da sala, você está na sala errada”. Eu gosto de estar em grupos que me provoquem, que me tragam novos pontos de vista.


Por exemplo, tem um grupo do qual eu participo que chama Tribo, onde trocamos muita coisa. Às 10h já temos vários estudos interessantes para ler, pesquisas, referências. Ele é formado por pessoas da área de comunicação, tanto agências como marcas.


Tem um outro grupo que participo, para discussões semanais sobre filosofia com o Clóvis de Barros, o Winesday, criado pelo Daniel Castanho, Chairman da Anima Educação. Ele lança um tema e nós pensamos sobre para discutirmos em cada encontro. Também lança desafios para discutirmos sobre livros e séries indicados por ele. Como referência, também, nem preciso citar os livros. Eu tenho uma estante maluca, com temas muito variados e eu sempre digo para as pessoas lerem algo que não tenha nada a ver com você.


Durante esse período e muitos cursos grátis sendo disponibilizados, comecei um que é nota 10 em Yale há anos, chamado “The science of well being”, que é um curso que faz você pensar se você é feliz ou não e te ajudar a abaixar suas expectativas para ser mais feliz. Uma outra dica que eu dou é trocar muitos cursos curtos, que transformam sua cabeça num liquidificador, e se dedicar de fato num MBA, pós MBA, para conhecer mais pessoas e ser a aluna mais burra da sala. Eu fiz isso nos últimos dois anos e me fez muito bem.


David: Para encerrar, você gostaria de deixar alguma mensagem?


Daniela: Eu tenho frase que acho que é muito minha, que é “para trás, apenas se for para pegar impulso”. Toda vez que sinto que estou dando um passo para trás em algo, eu falo isso para mim e é algo que me tranquiliza e me move.


O R. Talks acontece toda quarta feira, as 16h na live do Instagram @redibra.

Atualizado: 25 de jun. de 2020


A Redibra criou o R.Talks para oferecer aos seus parceiros e ao mercado um espaço de reflexão e inspiração, com visões sobre tendências e atitudes no momento delicado do COVID-19. A cada semana, o CEO da Redibra David Diesendruck entrevista um especialista nos mais diversos assuntos com uma live no Instagram da Redibra.

Para quem não teve a oportunidade de assistir a live com Luciano Lucas, head de Brand Experience da Coca-Cola Company, resumimos os principais pontos abordados. O tema da live foi “E como ficam as novas experiências?”.

David: Como você enxerga o futuro dos grandes eventos?

Luciano: Primeiro precisamos contextualizar o momento atual. Estamos passando por três grandes possíveis forças: será que estamos sob a ira divina? Será que estamos em um momento de respiro da terra, fazendo com que os humanos parem um pouco? Ou será que tudo isso é um mecanismo controlador de um governo totalitário? A verdade é que não sabemos de nada e não saber de nada em uma sociedade que está acostumada a obter informações em três cliques é extremamente angustiante.

É como se estivéssemos correndo a mil por hora e puxássemos o freio de mão de repente, por isso ficamos tentando prever milhões cenários dos novos valores que surgirão, então temos que entender primeiro que não temos nenhuma resposta agora e falar de futuro nesse momento pode ser algo paralisador, pois vai nos trazer medos e milhões de projeções. A vacina pode aparecer, o vírus pode mutar, novos negócios vão surgir, mas o que é normal nesse momento e o que já foi normal anteriormente?

Coexistimos com vários comportamentos ao mesmo tempo e em um momento como esse, de pandemia, nós damos espaço a vozes. Qualquer coisa que for falada agora, todo mundo está escutando. Muita coisa que já existia está em pauta e, em função do contexto, pode ser acelerada. Então, não sei se a melhor provocação é “qual o futuro do entretenimento?”. O que podemos pensar é o que faz sentido para o entretenimento hoje. Entendo que é através do exercício do presente que iremos construir o futuro. Vivemos um momento em que não podemos repetir comportamentos do passado e onde temos milhares de possibilidades de futuro. A forma mais segura de caminhar é tentar trazer sentido para o presente, até porque se isso se perpetuar por mais tempo, provavelmente esse presente vai construir o futuro.

Quis trazer todo esse contexto porque, de fato, é uma grande interrogação para todos, mas sem dúvidas emergem novas formas de relação e conexão, porque o ser humano nunca vai deixar de se conectar. Há muita inovação acontecendo, é a isso que temos que nos atentar para entender como essas soluções podem fazer sentido para o nosso negócio. E se não forem essas as soluções ideais, devemos buscar o que faz sentido hoje para gerar entretenimento.

Eu costumo dizer que há perfis de pessoas para todo tipo de tarefa. Temos que deixar as pessoas de futuro trabalharem com o futuro, as pessoas de passado e tradições, trazerem os valores e as tradições, mas as pessoas de agora têm que ir atrás do novo. Se ainda não apareceu algo que faça sentido, devemos investigar ao máximo. E isso é feito através de conversas como essa, nos aproximando de parceiros, de amigos, mas buscando soluções para o agora. Ainda temos que ser comedidos para falar de futuro.

David: Falando de presente, temos visto o sucesso das lives e a própria Coca-Cola lançou recentemente o Coke Studio Sessions. Você poderia falar sobre como você enxerga o movimento das lives e sobre essa iniciativa da Coca-Cola?

Luciano: Eu acho a iniciativa das lives algo incrível. Notamos nesse momento quão importante é a tecnologia – algo que já está em pauta durante as últimas décadas –, mas a arte é muito mais. As pessoas têm se alimentado de comida e arte, seja música, filmes, séries ou livros. O ser humano tem a necessidade de consumir arte e as lives vêm para dizer que o entretenimento não vai parar.

Lembro do Chris Martin (Coldplay) fazendo uma das primeiras lives no seu piano em casa, de forma bem intimista e modesta, o que gerou uma sensação interessante. Depois tivemos a Marília Mendonça, com recordes de visualizações e começamos a entender que esse tipo de ação gerou empatia com o público. É uma forma carinhosa do artista trazer um pouco de alívio à tensão que vivemos nesse momento, além da possibilidade de se conectar com causas sociais e mostrar a consciência desses artistas em utilizarem seus papeis como figuras públicas para incentivar ações solidárias.

Agora, sobretudo para uma visão de negócio, as lives nos levam a entender que formatos como esse podem ser uma maneira mais fácil de gerar negócios do que um show ao vivo, por exemplo. Elas nos possibilitam a inclusão de links durante sua exibição e assim se tornam uma importante ferramenta de vendas. No primeiro momento ainda não foram utilizadas dessa forma, mesmo porque não seria adequado, mas hoje já podemos considerá-las, sim, uma ferramenta comercial muito direta e que faz todo o sentido. Entendo que é um formato muito interessante, que está apenas começando. Das lives intimistas surgiram as superproduções, o que gerou a discussão sobre o risco de exposição aos colaboradores que trabalharam em suas montagens, mas que já foi revisto e corrigido com produções que não geram tanto risco.

Vemos coisas incríveis acontecendo e universos diferentes se unindo como, por exemplo, a ação do Fortnite com o Travis Scott, com shows ao vivo dentro do jogo que reuniram mais de 14 milhões de pessoas online. Há também mapas de jogos que agora possuem espaços exclusivos para festas e celebrações entre os jogadores, algo muito inovador, que aproveita o comportamento do público gamer, que talvez seja mais adequado ao momento de estar em casa e acostumado à interação digital e possuir uma rede de amigos conectados, uma vez que já jogavam juntos antes da pandemia. Essas ações vêm abrindo espaços que jamais havíamos pensado que poderiam existir. Além de tudo isso, também vemos marcas com espaços representados dentro dos mapas dos jogos.

Acho todos esses movimentos incríveis e, quando a Coca-Cola cria um aplicativo para isso, passamos para um outro nível, pois saímos do momento das lives onde temos um comportamento passivo em que o máximo de interação seria através de QR Codes ou comentários no próprio YouTube e entramos em uma experiência realmente interativa. Os usuários podem acumular pontos e assim ganharem o direito a acessar a primeira fila da plateia, o que traz alguns benefícios como, por exemplo, falar com os artistas. São diversos os benefícios adventos da tecnologia. As lives do Coke Studio Sessions vêm sendo organizadas há mais de 60 dias e contam com mais de 100 artistas em uma programação que vai de Katy Perry a Anitta, além de vários DJs. Também estamos aprendendo, é tudo muito novo, mas acredito que seja algo que veio para ficar como ferramenta, uma vez que temos vários cenários possíveis.

Pode ser que tudo passe de forma rápida e voltemos a ter acesso a ambientes físicos, mas ainda assim há lugares que não costumam ter acesso a eventos desse porte e aí temos uma oportunidade de levar esse conteúdo a essas pessoas. É possível também que vivamos um momento híbrido de fechamento e aberturas, de forma a controlar a questão do vírus. Esse formato de live atende a todas essas possibilidades. Com certeza essa foi uma das grandes descobertas para o entretenimento durante a pandemia e é importante lembrarmos que live não é apenas sobre música e, sim, um palco em que podemos exibir qualquer coisa. Podemos migrar do formato musical para transmitir lives de conteúdos educativos, aulas de culinária, filosofia etc. Estamos apenas no começo desse movimento, que tende a ter muito sucesso.

David: Você tem visto outras iniciativas de experiências que podem ser dadas como exemplo?

Luciano: Um movimento que está começando a surgir é o dos clubs digitais, que contam com salas distintas para interação entre os usuários. Salas de flerte, de estilos musicais, alguns inclusive já possuem filas virtuais de espera para participação e cobram pelo acesso. Não posso dizer que já é um sucesso, mas as pessoas já estão começando a testar e formar opiniões a respeito. Acho que a necessidade de interação social e a proibição temporária do encontro com outras pessoas vai fazer com que a gente encontre essas soluções.

A retomada dos drive-ins é uma solução incrível também e acaba sendo um encontro perfeito entre a nostalgia e o futuro, faz muito sentido para o momento atual e pode ser explorado de diversas formas. As pessoas já estão assistindo a shows nos drive-ins, substituindo aplausos por buzinas, os artistas interagem brincando com o público, subindo nos carros. Também já vimos restaurantes com cabines de vidro, enfim, são ideias e soluções que estão surgindo por causa da necessidade. Algumas ideias parecem loucura, mas é o momento de as pessoas serem criativas na busca dessas soluções e o tempo vai dizer o que realmente faz sentido e se as pessoas irão aderir ou não. Enquanto isso as marcas vão entender como conseguem fomentar essas inovações e transformá-las em uma triangulação de negócio que faça sentido de forma equilibrada para consumidores, sociedade e marcas.

David: Como empresas que não possuem muita verba podem criar experiências para engajar seus consumidores e gerar brand love?

Luciano: O uso do ambiente digital, principalmente nesse momento de digitalização necessária, pode ajudar essas empresas, pois experiências físicas realmente têm o custo mais alto. A experiência vem a partir da construção de uma comunidade, que é onde começamos a entender nosso consumidor e prover para ele conteúdo relevante. Essa é uma oportunidade de ouvir seu público e mantê-lo por perto, seja através de entretenimento ou fornecendo conhecimento – isso vai depender do perfil da sua marca. Podemos usar como exemplo até mesmo essa live, é uma experiência com o público que nos acompanha e é realizada de forma muito acessível. A partir do momento que você entender seu público, a construção das experiências fica mais relevante para ele e é possível, inclusive, colocá-lo no centro dessa construção, através de curadorias. É importante medir resultados, mas sobretudo é importante escutarmos nosso público.

David: Em uma das edições do Rock In Rio, a Coca-Cola montou uma ação de experiência com os fãs, na qual eles eram parte da atração. Você pode contar um pouco sobre o processo de criação dessa experiência?

Luciano: O insight dessa ação veio do time de marketing, onde entendemos que, como marca, mais importante do que um artista é o nosso público. Por muito tempo vivemos na cultura do protagonismo dos artistas, mas o que tem que ser protagonizado é a vontade do coletivo como um todo. Percebemos que como marca seria muito restritivo da nossa parte escolher apenas um artista para realizar o show no palco da Coca-Cola. Ao escolher um artista (não importando de qual estilo musical), estaríamos excluindo outros e por sermos uma marca extremamente democrática não era isso que queríamos.

Foi então que surgiu o insight de que o público deveria estar no centro. A partir daí fomos entender qual seria a melhor forma para realizar essa experiência. Inspirados na vontade das pessoas de terem seu momento de fama e pensando que a energia coletiva traz uma vivência impossível de se ter sozinho, uma vez quando está todo mundo vibrando na mesma sintonia em um show e essa sensação só é alcançada de forma coletiva, como podemos criar algo único? Invertendo as posições e colocando o público no palco. Hoje em dia, não faz sentido viver sozinho. Então pensamos em uma configuração que trouxesse todo mundo para o palco. As bandas continham cerca de 50 integrantes, tocavam as músicas do line-up do dia do evento e o público todo pode participar ativamente.

David: Em eventos e experiências, como você vê a questão do pensamento coletivo? Você entende que isso veio para ficar e vai continuar no momento pós pandemia?

Luciano: Quando falamos sobre música e shows, estamos falando com uma geração muito pautada sobre a construção de uma sociedade melhor. Eles já entenderam que as forças podem ser somadas e essa força pode ser usada para construir algo além da diversão. Eu vejo isso muito forte, inclusive com os produtores de eventos. O Rock in Rio já está trabalhando com esse pensamento. Criaram o Palco Favela, onde talentos das favelas se apresentaram, geração mais repercussão na imprensa do que o Palco Mundo, além de outras ações, como realizar um trabalho de reciclagem durante todo o evento.

Os grandes produtores de megaeventos já têm a visão de que se é possível reunir 100 mil pessoas em um evento, é possível realizar e oferecer algo além de consumo, mesmo porque isso gera um impacto que tem que ser neutralizado de alguma forma. Também é importante pautar todo o ecossistema de fornecedores, trabalhadores desses eventos, muitos que são informais, inclusive. Com a paralização geral do ramo de entretenimento, enxergamos o tamanho e a força da engrenagem que esses eventos movem, então entendo que essa página não volte mais. Temos que realizar tudo com um propósito maior. Essa geração já nasceu com propósito e isso não se perde mais.

David: O que você poderia compartilhar de dicas sobre como trabalhar com influenciadores e com relação ao compartilhamento de valores e propósitos das marcas?

Luciano: A nomenclatura já traz o peso e a importância do papel que eles exercem. É fundamental entender a força que eles têm, os valores que carregam e quanto sentido eles fazem dentro do contexto da marca. Os contextos mudam, o mundo muda e eles só se validam se tiveram um comportamento adequado.

Os influenciadores têm uma pauta para seguir, mas precisam estar contextualizados com o momento que vivemos, então as marcas precisam ter muito cuidado pois elas partilham os valores dos influenciadores escolhidos. Qualquer ação, fala ou conduta de um influenciador enquanto representante de uma marca, atinge a mesma e com sequências graves para os negócios.

Nós vemos pessoas de influência, entre artistas e influenciadores, realizando um trabalho condizente com o momento atual. Trazendo pautas pertinentes, mesmo que não sejam diretamente relacionadas a nenhuma marca. Isso é utilizar a influência de uma maneira positiva e engajadora. As mídias tradicionais são muito frias, o papel do influenciador é trazer vida e voz às marcas, eles passam mensagens em nome das marcas, então os valores devem ser alinhados.

David: Qual a diferença entre os macro e os microinfluenciadores e qual o critério de escolha entre eles?

Luciano: De uma forma simples e didática, os macroinfluenciadores funcionam como grandes comunicadores de marca e trazem uma visibilidade gigantesca, mas não necessariamente resultam em um grande engajamento. Muitas pessoas serão atingidas, como um comercial de TV em horário nobre.

Quando trabalhamos com microinfluenciadores, eles são mais próximos do seu público. Eles têm uma rotina, um perfil de comportamento que gera empatia com o público que o assiste, parecem mais próximos do estilo de vida e são mais inspiradores por conta disso. Então, utilizá-los na estratégia é uma forma mais assertiva de comunicar produtos para determinado público.

A escolha é baseada na estratégia e no que precisa der comunicado, podemos trabalhar com ambos, mas comunicando coisas diferentes, que façam sentido para cada público. A visão mais básica é essa: macro traz visibilidade e o micro traz engajamento.

David: Quais referências de benchmarks você pode passar, com relação ao mundo de live events, experiências e influenciadores?

Luciano: A minha fonte é um casal de amigos meus, que há três anos vivem de forma nômade, participando de festivais e eventos pelo mundo todo para realizarem análises sociológica e antropológicas a respeito de tendências para o mundo do entretenimento. Eles geram releases incríveis e toda quinta-feira, realizam uma live chamada Clube do Pijama, onde trazem profissionais de áreas relacionadas ao entretenimento e a experiências. A melhor forma de passar por esse momento é estar muito ligado ao presente, com a cabeça em informações que estão sendo produzidas agora e pessoas que são referências para nós agora.

David: Você acredita que os influenciadores funcionem apenas para um publico mais jovem?

Luciano: Na verdade, é uma questão de produto. Estamos acompanhando a questão da longevidade e hoje os 50 são os antigos 30 e vai ser assim sucessivamente. A representatividade é muito importante e poucas marcas fazem isso. Eu vi um estudo que comparava a mulher de 50 anos duas décadas atrás com a mulher de 50 anos de hoje e um exemplo claro disso foi a apresentação da Jennifer Lopez no Superbowl 2020. Duas décadas atrás veríamos uma senhorinha. O perfil mudou completamente, as marcas perceberam e já vejo alguns influenciadores mais velhos atuando. Muitas marcas usam os “jovens adultos” como um meio termo para atingir adolescentes e o público mais velho, mas acredito que estejamos em outro momento. Todo mundo ao envelhecer carrega o layer de todas as idades, e algumas marcas já estão atentas a isso.

David: Qual seu o recado final que você deixa para quem está nos assistindo?

Luciano: É um momento de descoberta, não adianta olhar nem para o passado e nem para o futuro. Temos que ter total atenção ao momento, o maior valor que podemos ter é estar atentos aos detalhes, às pessoas e ouvir pensamentos diferentes. Temos muitos presentes coexistindo e avida tem espaço para diversos perfis. Precisamos olhar esse todo e ver o que faz sentido para movimentar o seu negócio e encontrar novos caminhos. Algumas coisas vão mudar, outras irão se readaptar e outras acabar. O importante é trazer o presenteísmo para esse momento e ter coragem porque isso vai passar. Historicamente isso sempre passou e hoje contamos com o avanço de tecnologias e estudos.


O R. Talks acontece toda quarta feira, as 16h na live do Instagram @redibra.

Atualizado: 25 de jun. de 2020


A Redibra criou o R.Talks para oferecer aos seus parceiros e ao mercado um espaço de reflexão e inspiração, com visões sobre tendências e atitudes no momento delicado do COVID-19. A cada semana, o CEO da Redibra David Diesendruck entrevista um especialista nos mais diversos assuntos com uma live no Instagram da Redibra.

Para quem não teve a oportunidade de assistir a live com Carlos Ferreirinha, formador de opinião sobre o negócio Luxo e Premium, sócio da MCF Consultoria, resumimos os principais pontos abordados. O tema da live foi “Resiliência, Ressignificação e Reação”.

David:

Estamos vivendo hoje um momento de VUCA (acrônimo das palavras em inglês: Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, que significam Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade). Como você sugere que as pessoas se organizem do ponto de vista pessoal, profissional e empresarial para lidar com esse momento?

Ferreirinha:

Eu estou tentando evitar a futurologia, fórmulas e receitas, mas evidentemente quem tiver marca já estabelecida, terá vantagem competitiva no momento pós Covid-19, na retomada do mercado, que estará fragilizado. Viveremos um desmonte socioeconômico significativo e as marcas que melhor realizaram seu dever de casa ao longo dos anos terão essa vantagem. Talvez uma das características principais dessa crise é a quebra das nossas certezas, referências e convicções. Não adianta recorrermos a livros para saber como agir porque na verdade nunca aconteceu nada parecido, nessas proporções, a nível global. Então, momento com minha base de clientes e em minha voz pública, eu tenho tentado traduzir esse momento em três fases de reflexões, que deveriam acontecer paralelamente.

O primeiro ponto que eu julgo importante é nos perguntarmos de forma profissional, empresarial e individual, quem éramos antes dessa pandemia? Por mais dolorida que essa pergunta seja, é fundamental. Eu acho preocupante nossa tendência a projetar no vírus toda a responsabilidade do que está acontecendo e sendo acelerado. Já era claro a necessidade de reflexões, atualizações e de uma expansão do conhecimento sobre o mercado, que já nos colocava diante de variações e rupturas significativas nos últimos dez anos. Quando me pergunto quem eu era antes da pandemia, me deparo com alguns questionamentos. Eu já estava observando esses indicadores e fui resistente, adiei tomadas de decisões? Será que eu fui excessivo na minha viagem egóica de marca? Precisamos fazer uma reflexão honesta sobre esse ponto.

Em segundo lugar, nós somos treinados a vida toda para pensar a longo prazo. É assim desde a infância quando nos perguntam “o que você vai ser quando crescer?”, durante a adolescência quando questionam qual faculdade iremos fazer, enquanto estamos cursando a faculdade e temos que pensar onde estaremos trabalhando quando finalizarmos a graduação. O mesmo ocorre nas empresas e meu discurso, nesse momento, é para que quebremos esse raciocínio do longo prazo e pense no curtíssimo prazo. Não somos treinados para isso, mas o cenário nos pede esse posicionamento. Temos que ser capazes de tomar, diariamente e várias vezes por dia, decisões analíticas urgentes. As empresas romantizam seu mundo profissional com a visão do longo prazo, mas a verdade é que nesse momento não temos noção do que pode acontecer daqui a uma semana ou um mês. Então minha recomendação é de olhar para o curtíssimo prazo.

Por fim, devemos começar a pensar na pergunta contrária: quem seremos ao final dessa travessia? Qual será minha voz, minha retórica de relacionamento, como me reapresentarei? Não vamos retornar ao mesmo ponto em que paramos. De que forma a marca que eu tenho hoje vai se posicionar? Eu vejo a demora de marcas líderes de mercado em mostrar seu posicionamento, então eu digo para que você comece agora a trabalhar e se perguntar quem será após a pandemia.

David:

Eu tenho escutado de algumas pessoas que esse momento é similar a quando fazemos nossa lista de resoluções de final de ano, com o que vamos deixar para trás e o que podemos melhorar, isso está de acordo com os três pontos que você colocou. E em nosso talk com a Andrea Bisker, ela falou uma frase que marcou muito: “é melhor o feito do que o perfeito”, pois ficamos muito tempo deliberando entre o “faço ou não faço” e acabamos não fazendo nada.

Ferreirinha:

Para fazer uma complementação ao que a Andrea falou, eu sou da escola profissional da excelência, da obsessão pelos detalhes e pelo extraordinário, eu me pautei profissionalmente dessa forma e minha inteligência de gestão de luxo me moldou dessa forma também, mas esse é o momento em que a obstinação por completo tem que ser coadjuvante. Você precisa ser realizador, sem sombra de dúvidas agora é melhor ter o feito do que o perfeito. É o olhar imediato e latente para o curto prazo que pode durar um dia, duas horas, uma semana.

David:

Eu tive a oportunidade de participar de um dos seus fóruns e você citou uma frase de Alvin Toffler que tem servido de mantra para mim esse ano. Ele diz: “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e aprender novamente.” Como podemos fazer em nossas empresas para que isso se torne uma cultura?

Ferreirinha:

Eu tenho usado essa citação de Toffler de forma muito intensa nos últimos dois anos e é interessante porque Toffler faleceu há quatro anos e essa citação tem pelo menos seis anos. Ela aparece em seu livro “Choque do Futuro”, um brilhante ensaio dele, que foi um escritor e futurista americano. Precisamos entender que se torna analfabeto quem não consegue quebrar as suas verdades, convicções e certeza absolutas. Isso foi dito anos antes do cenário que vivemos atualmente. Aqui reside o maior obstáculo do aprendizado, que não é se colocar disponível para aprender e, sim, quebrar as barreiras das suas certezas. Nos colocamos diante de um conhecimento, mas o analisamos através da nossa perspectiva e valores pessoais, o que gera um bloqueio.

O primeiro exercício que vejo que é fundamental é exercitar o princípio de que não precisamos ter todas as verdades. Nem todas as citações precisam vir de nós. Temos que parar de nos apropriar das citações e reflexões de outras pessoas a ponto de internalizá-las e verbalizá-las como se fossem nossas. As empresas se colocam em posições muito resolutas e absolutas, e deixam de permitir ao outro o local de fala, é importante que façam o exercício da escuta ativa. As empresas precisam descontruir o modelo tradicional organizacional empresarial que tem aproximadamente sessenta anos, pois ele envelheceu.

Estamos em um momento em que a expressão da solidariedade e da responsabilidade social evidentemente está mais reverberada. Na maior parte das empresas, esse braço responsável pelas ações sociais ou fica abaixo do marketing ou da área de recursos humanos. A responsabilidade social, que é o papel dos novos tempos de um conceito sustentável, não possui voz de autonomia dentro das empresas. Esse é um exemplo claro de empresas que precisam descontruir o modelo tradicional e passar a ouvir mais o que está acontecendo, de forma ampla e plena, diante dos nossos olhos. É necessário permitir mais a quebra hierárquica que limita o aprendizado, e isso é mais do que derrubar as paredes dos escritórios, pois nada muda se o indivíduo continuar administrando suas equipes através do Whatsapp e dentro da hierarquia da mesma forma.

Eu vejo que esse exercício da citação de Toffler, o fundamental para mim, é que as empresas precisam ter a coragem para realizar a desconstrução dos modelos organizacionais. São estruturas estáticas, que desenham planejamentos estratégicos para três anos, enquanto o mercado vem criando uma velocidade de ritmo alterada nos últimos dez anos, mas as empresas continuam acreditando que apenas um diretor pode apresentar uma ideia ao presidente, em um formato padrão de PowerPoint. O processo e a velocidade das novas informações têm que ser mais fluidos, o modelo atual quebra a possibilidade dessa fluidez.

David:

Você fala que a pandemia trouxe muitas coisas que sabemos que deveriam ter sido feitas, mas não foram, e agora estamos correndo atrás. Relacionando essa afirmação com alguns pensadores, outra teoria já vinha sendo questionada, é a de que as empresas existem apenas para gerar lucro. Já há uma corrente que diz que a empresa, na verdade, faz parte de um ecossistema e tem que haver a preocupação com os stakeholders. Como ficam os colaboradores, fornecedores, meio ambiente? Gostaria que você falasse sobre essa transição – que já deveria estar acontecendo – e qual a importância do ecossistema com um todo.

Ferreirinha:

Essa é uma continuação da reflexão sobre o aprendizado dentro das empresas. No modelo tradicional da gestão do capitalismo que reconhecemos nos últimos cinquenta anos, o capital e o lucro sempre foram a perseguição número um. Essa á uma das razões da discrepância absurda que vemos em termos de diferenças sociais nas economias mundiais. Por mais que hoje a gente viva uma crise brutal nas economias mundiais, não estamos vivendo uma crise de pobreza. O mundo tem muito mais dinheiro disponível circulando em riquezas do que no último século, só que o modelo tradicional faz com que não enxerguemos isso porque as concentrações desse dinheiro são absurdas. A busca o tempo inteiro pelo lucro isolado fez com que não percebêssemos o surgimento da comunidade periférica que estava ao lado das fábricas e escritórios e a importância da circulação da economia.

Esse novo conceito de stakeholders e ecossistema é uma reflexão de muitos anos. Há uma pressão nas empresas para se perceber essa diluição de resultados que não pode acontecer apenas visando o lucro há muito tempo. E de que forma eu vejo que isso será acelerado? Eu não tenho a ilusão de que a maior parte de nós sairemos dessa situação de Covid-19 mudados, mais conscientes, sustentáveis e responsáveis. Acredito que passaremos por essa oportunidade, mas será a mesma sensação da lista de resoluções de final de ano, quando dois meses depois já estamos quebrando todas as promessas.

O que verdadeiramente pode acelerar esse processo, que já está atrasado dentro das empresas de forma vergonhosa, é um movimento da economia real de assumir o papel de pontuar as empresas no momento de apresentar seu balanço no mercado de capitais ou de colocar suas ações para serem valorizadas na bolsa. Nesses momentos, a economia real deve pontuar as empresas por suas ações sociais, pelo seu conceito de economia circular, sua capacidade de ser sustentável, pela sua inteligência de diversidade. Apenas dessa forma veremos as estruturas adequadas ao novo movimento. As empresas precisam ser favorecidas em seus resultados se passarem a ser medidas mercadologicamente por esses novos princípios de um ecossistema mais condizente aos tempos atuais e isso será potencializado pelo Covid-19.

A pandemia acentua a discrepância social no mundo. Vou usar uma citação em inglês: “the weaker will get weaker, the stronger will get stronger”. O estrago é tão forte que se não estivermos atentos para o fato de que os fortes sairão mais fortes e os fracos sairão destruídos e não reorganizarmos isso pela economia real, o consumidor não vai conseguir se recuperar na mesma velocidade que o mercado. Agora é o momento de haver acordos nas bolsas de valores do mundo inteiro, para olhar esse cenário e criar o processo de pontuar as empresas pela sua persistência na economia circular, pelo conceito de sustentabilidade e responsabilidade. Dessa forma teremos um princípio genuíno de aceleração para esse novo ecossistema.

David:

Já existe esse movimento, de grandes fundos, que dentro do cenário atual estão pautando suas decisões de investimento em alguns desses pontos que você indicou. É o mercado reagindo.

Ferreirinha:

Esse é o ponto. Você tem os exercícios realizados por instituições espetaculares. Já existem certificações e normatizações e, ainda assim, hoje estamos lidando no Brasil com uma situação de questionamento da veracidade ou não da OMS. Então é importante que um fundo como o Blackstone chegue a uma rodada de captação de alavancagem financeira e indique esses pontos como critérios de participação. O que não pode acontecer é que tenhamos empresas gigantes que esqueçam de sua responsabilidade socioambiental, mesmo sendo alertadas a respeito.

O que me assusta é que empresas como essa continuam fazendo alavancagens financeiras no mercado, enquanto outras menores que precisariam desses investimentos para sobreviver, não têm acesso. Isso acontece porque o mercado de capitais ainda não é pautado por uma inteligência de novos códigos de exigibilidade para os novos tempos. Enquanto esse cenário não mudar, outros Brumadinhos vão acontecer, a resposta do capitalismo para isso é “faz doer no bolso”. E quando realmente doer no bolso, comprometendo resultado de acionistas e stakeholders, as grandes empresar terão que sair da teoria e realmente começar a praticar e aplicar as medidas necessárias.

David:

Como marca, nesse momento, qual a melhor maneira de comunicar suas ações, mas de forma verdadeira e sem perder a coerência?

Ferreirinha:

Esse é um ponto sério, pois nesse momento fica claro quem tem uma transparência genuína em seus propósitos e ações e possui coerência em seu diálogo. É nesse momento que se revelam aqueles que estão realmente pautados pela genuinidade da transparência e, também, se revela o poder midiático. Eu digo que o que mais me assusta nisso tudo não é o equívoco, pois faz parte testar e errar. O que me incomoda é como empresas que têm estrutura e renome se perdem em uma viagem de vaidade, presunção e arrogância, aonde acham que a marca é capaz de qualquer coisa, inclusive de neutralizar um erro gigante confiando em uma equipe composta por duas pessoas e apenas um tomador de decisão, sem compartilhar com mais ninguém.

Estamos em um momento em que as ideias devem ser compartilhas e testadas em mais ouvidos, percepções e realidades sociais. É necessário entender que muitas vezes você se posiciona de uma forma, mas poderia ter se dado o direito de ouvir, até mesmo dentro da sua própria equipe, que há outras perspectivas. Muitos dos equívocos de comunicação que vêm acontecendo são por causa dessa cultura de tomadas de decisões de forma unilateral, geralmente pelo mesmo perfil de pessoas que não se colocam em uma prerrogativa de compartilhar e, assim, ouvir uma opinião contrária que pode evitar uma catástrofe de posicionamento e comunicação. É fundamental realizar uma reflexão da diversidade das opiniões.

A visibilidade das redes sociais potencializa tudo, não vivemos no cenário de dez anos atrás, aonde os erros eram resolvidos pela assessoria de imprensa enviando uma carta e uma retratação na edição seguinte de alguma revista. Hoje o erro é reverberado em segundos e, para essa velocidade, não é possível deixar toda a tomada de decisão na mão de duas, três pessoas. É necessário se permitir compartilhar e ter, dentro da sua equipe, pessoas com autonomia genuína para dizer quando é melhor que algo não seja feito. Falta uma inteligência maior para ouvir o outro e se perguntar sobre o que é adequado ou não no momento.

O que deve ser protagonista no cenário atual é a sua atitude perante o relacionamento com todos os seus stakeholders. Não precisa ser algo midiático, mas sim uma construção sua com seus funcionários e fornecedores, sem arrogância ou presunção. Esse é um dos efeitos do Covid-19, não importa se você é uma das maiores marcas do mundo, no final do dia todo mundo está trancado em casa, em distanciamento social e se sua marca foi penalizada com o fechamento de uma dinâmica de consumo, ela também não vendeu. Esse momento demanda uma palavra simples, que todas as marcas precisam compreender: humildade. Há uma diferença entre convicção e arrogância. Devemos ser convictos, mas não presunçosos com relação ao poder de nossas empresas e marcas.

David:

Um exemplo recente que tangibiliza o que você falou é o Elon Musk, que sempre defendeu o meio ambiente, agora está ameaçando tirar a fábrica da Califórnia, porque quer que os funcionários voltem ao trabalho durante a quarentena.

Ferreirinha:

Esse é um momento que revela muito sobre as empresas e as pessoas. O mesmo ocorreu com Jeff Bezos, CEO da Amazon, durante o epicentro da pandemia em Nova Iorque, quando antes mesmo de mostrar qual seria o posicionamento da empresa dentro do cenário, cria uma campanha pedindo doações inclusive dos funcionários. Isso ocorreu porque ele não se permite, dentro do seu castelo pautado pelo distanciamento, ouvir de qualquer outra pessoa que uma ação dessas não teria eco no mercado. Não estou dizendo que não faz sentido você usar seu poder de voz para criar uma campanha dessas, mas para isso ter sentido, primeiro é necessário mostrar o que você está fazendo também.

David:

Uma pessoa que tem se tornado referência ultimamente é o historiador israelense Yuval Hahari. Em uma entrevista recente ele disse que tudo é uma questão de escolha. Para concluirmos nossa conversa, eu gostaria te perguntar quais são as suas escolhas, sintetizando tudo o que conversamos, qual sua mensagem final para sairmos melhor desse cenário e lidarmos melhor com a situação?

Ferreirinha:

Durante esse período, a minha reflexão mais difícil tem sido nessa linha. Tenho refletido muito sobre quem serei ao longo e depois dessa travessia. Quais serão as minhas escolhas e meus princípios de aprimoramento como gestor, empresário, empreendedor, indivíduo etc. Hoje, as minhas escolhas estão pautadas em pessoas. Quem se relaciona comigo sabe que minha vida é pautada em relação ao outro, seja de forma profissional ou pessoal. As minhas escolhas têm sido fazer de tudo para ajudar aqueles que estão comigo no meu dia a dia profissional. Até mesmo os que eu tive de desligar, estou ao lado comprometido em ajudá-los nessa travessia. Essa é a minha escolha prioritária: me colocar disponível ao outro.


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