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R. Talks entrevista Daniela Klaiman sobre o tema "O futuro dos criadores e do storytelling"


A Redibra criou o R.Talks para oferecer aos seus parceiros e ao mercado um espaço de reflexão e inspiração, com visões sobre tendências e atitudes no momento delicado do COVID-19. A cada semana, o CEO da Redibra David Diesendruck entrevista um especialista nos mais diversos assuntos com uma live no Instagram da Redibra.

Para quem não teve a oportunidade de assistir a live com Daniela Klaiman, palestrante e futurista formada em tecnologia, futurismo e empreendedorismo, expert e consultora de consumer behavior e trends research, resumimos os principais pontos abordados. O tema da live foi “O futuro dos criadores e do storytelling”.

David:

Como é o trabalho de uma futurista e quais as ferramentas que você usa?


Daniela:

O trabalho do futurista funciona de duas maneiras. Sempre enxergamos dois futuros, o mais próximo que se baseia no comportamento das pessoas, e o futuro mais longo, que é o que vem pela tecnologia. No primeiro, estudamos as pessoas através de diversas pesquisas qualitativas, conversamos e entendemos melhor quem são elas. É através do comportamento das pessoas de hoje e de um futuro próximo, conseguimos enxergar mais ou menos o que vai acontecer em um intervalo de zero a cinco anos. Isso ajuda principalmente marcas em termos de branding, posicionamento, desenvolvimento de novos produtos, abertura de mercados. O segundo envolve o estudo de tecnologia e as mudanças que ela vai acarretar à vida das pessoas, o que nos possibilita ter uma noção entre cinco e cinquenta anos. O mundo ideal é cruzar esses dois, quando cruzamos o futuro que vem pelo comportamento das pessoas com a tecnologia e entendemos como todas essas mudanças vão acontecer juntas e, a partir daí, conseguimos traçar cenários possíveis e ter uma noção do que vai acontecer em diferentes mercados e áreas.


David:

Estamos ouvindo bastante que a pandemia na verdade está apenas acelerando mudanças que já estavam para acontecer. Você acredita nessa afirmação? Quais são essas mudanças?


Daniela:

Concordo totalmente com isso. Muitas coisas já estavam previstas, principalmente com relação ao futuro do trabalho. Existem várias previsões de que até 2030, 50% dos postos de trabalho iriam desaparecer, então já estamos carregando esses acontecimentos há bastante tempo. Isso gera um movimento fortíssimo de pessoas trabalhando em outro em outros ambientes, que começou com o co-working, uma forma de informalização do trabalho, algo que pode até ser visto na própria vestimenta dos colaboradores.


Além desse primeiro movimento, há algum tempo muitas pessoas começaram a sair de empregos formais para trabalharem como freelancers também, mas não apenas isso, o trabalho no modelo home office já estava se tornando mais comum. Surge a dúvida sobre até que ponto vale a pena pagar aluguéis caríssimos em escritórios na Faria Lima, Berrini, para acomodar tantos funcionários sendo que o trabalho remoto funciona também. Nesse momento ainda estamos aprendendo a trabalhar dessa forma, não está no formato ideal, mas é interessante ver que quando isso estiver bem estabelecido, as próprias empresas vão enxergar muitas vantagens, além dos funcionários. Outro ponto que surgiu com essa aceleração de tendências, que eu acho interessante e positivo, é que o momento atual está forçando uma maior integração tecnológica de pessoas mais velhas.


Essas acelerações realmente vêm acontecendo e no mercado de trabalho elas são muito óbvias, mas conseguimos enxergar isso em qualquer movimento de coletividade. Falamos que não é mais possível viver no individualismo, temos que nos entender como um único grupo, como terráqueos, afinal, literalmente, uma pessoa tosse na China e o mundo inteiro é afetado por isso. Não podemos mais nos enxergar pelas fronteiras ou países, mas sim de uma forma coletiva, para a partir daí conseguimos enfrentar várias outras questões que com certeza irão surgir.


David:

Você comentou anteriormente sobre o futuro do trabalho, poderia explicar melhor essa afirmação? Como vai funcionar a ressignificação dos trabalhos e como podemos usar o momento da pandemia para aprender coisas novas?

Daniela:

Em primeiro lugar, novos postos de trabalho vão surgir, coisas novas que não existiam até esse momento. Por exemplo, já existem empresas focadas apenas em exploração espacial e em breve veremos empregos nessa área. Eu até brinco que meu filho vai querer ser minerador de asteroides, porque vai existir demanda para uma profissão dessas. Então no futuro teremos hotéis no espaço, professores especializados em ensino de inteligência artificial – para educá-las antes que comecem a aprender sozinhas –haverá especialistas em casas autônomas e conectadas, para garantir que a casa funcione sem luzes acendendo sozinhas, aspiradores funcionando fora de hora, etc.


Começaremos, sim, a ter várias profissões surgindo, mas por outro lado teremos outras sendo substituídas, vou explicar como isso vai acontecer. As máquinas estão cada vez mais poderosas e em breve irão realizar muitas funções melhores do que nós, isso já acontece. Em tudo que envolver muitos cálculos complexos, busca em memória, exigir muita força física e repetição, serão mais eficientes que o ser humano.


Isso vai ocorrer em todos os níveis. Estou falando de advogados, porque uma máquina consegue buscar um precedente, por exemplo, em 0,001 segundo enquanto uma pessoa talvez levasse semanas para encontrar o mesmo resultado. Robôs cirurgiões são extremamente precisos, mais que seres humanos, não precisam de pausas para comer, ir ao banheiro, descansar, não têm distrações. O foco é totalmente no que eles estão fazendo no momento. O mesmo com analistas de bancos que passam horas com planilhas abertas. A tendência é que as máquinas façam esses serviços por nós e, o mais interessante, é que isso nos dá espaço para que possamos fazer o que somos melhores como seres humanos. Desenvolvemos habilidades não tão humanos para podermos realizar diversos tipos trabalhos, mas com as máquinas fazendo isso por nós, ficamos livres para atividades mais humanas, de fato.


Nisso, incluímos profissões já existentes, que hoje são colocadas em segundo plano, mas terão muito mais valor e importância nesse próximo momento. Entre elas podemos considerar psicólogos, fisioterapeutas, parteiras, cuidadores. Outra curiosidade sobre essas profissões é que elas são ocupadas predominantemente por mulheres, pois os homens buscavam outras atividades que tivessem remunerações melhores. Com a humanização das profissões, os papéis se invertem nesse sentido. Eu acredito que o futuro do trabalho seja positivo, são coisas que todos temos capacidade de fazer e isso pode diminuir um pouco a questão do privilégio que existe hoje entre algumas profissões.


David:

Existe também uma questão ética que é interessante mencionarmos. Por exemplo, quando falamos sobre carros autônomos, tem todos os benefícios de programação de horários, temperaturas etc., porém em uma situação emergencial, como certas decisões são tomadas? Existe um limite para até onde podemos ir com a tecnologia?


Daniela:

Essa questão é muito delicada e o caso do carro é muito real. Ele é programado por engenheiros e empresas que dominam essas tecnologias, que hoje são pouquíssimas, eu diria que no máximo cinco. O problema é que todas elas possuem CEOs com o mesmo perfil, geralmente homens brancos de meia idade, norte-americanos, formados nas mesmas universidades e que pensam de uma única maneira. Então o que acontece é que a inteligência artificial já está sendo criada com esse viés. Alguém dentro dessas empresas já decidiu quem o carro autônomo deveria atropelar em uma emergência e quem deveria ser poupado. Ao contrário do ser humano, que vai agir por reflexo e tentar salvar quem for possível, a máquina já tem essas decisões programadas.


Temos um problema enorme, então, de como treinar essas inteligências de uma maneira ética. Num primeiro momento, as empresas fazem esse treinamento, no segundo momento elas começam a aprender com o conteúdo que já existe no mundo.


O problema é que, hoje, cerca de 50% das pessoas do mundo não têm acesso à internet, ou seja, a opinião dessas pessoas não é considerada no momento de educar uma inteligência artificial. Sendo assim, essa educação já vem enviesada e muitas das inteligências criadas já possuem uma formação racista e o mais interessante é que elas são simplesmente um reflexo da nossa sociedade. Somos uma sociedade cheia de preconceitos e essa é uma grande barreira. Por isso grandes cientistas desejavam criar um teto para o desenvolvimento da inteligência artificial, para que não se passasse de determinado ponto, pois a partir desse ponto ela poderia se tornar muito perigosa para a humanidade.


David:

Como as empresas podem utilizar o futurismo para os negócios, pelo menos a curto e médio prazo?


Daniela:

Pessoalmente, eu gosto de provar que é totalmente possível criar um negócio que fuja do status quo, do que existe hoje. Quando eu entro em empresas para fazer consultoria e falar de inovação, eu gosto de explicar que, para mim, inovação de verdade é criar um negócio que vai matar o seu negócio atual. E enquanto você cria esse negócio, se você for bem sucedido é maravilhoso, porque vai ocupar o espaço da sua empresa com outro negócio seu, antes que a concorrência o faça. O interessante sobre isso é que, durante o processo, você faz descobertas que também funcionam para a sua empresa hoje, e assim vai acoplando inovações para seu negócio futuro até o momento que ele seja relevante o suficiente para substituir o negócio atual.


Então, para mim, é muito importante desafiar mercados, mudar a forma como eles funcionam e estão hoje, até para que possamos deixá-lo mais equilibrado e não na mão de poucos gigantes. Acredito que hoje haja abertura para a descentralização e a possibilidade de haver mais players no mercado. Além disso, é importante que todos saiam ganhando em qualquer negócio. Se o consumidor não sai ganhando, não imagino que você esteja ganhando também. Deve ser um jogo win-win, todos devem ter alguma participação positiva. É necessário colocar sempre as pessoas em primeiro lugar e a empresa em segundo, porque se as pessoas vão atrás da empresa, ela é um sucesso.


Um excelente exemplo é a Tesla. Ela é uma montadora jovem, inovadora, aberta, porém fatura muito menos do que as demais (enquanto a Tesla vende 30 mil carros por ano a GM vende 3 milhões), mas quando vão lançar um carro, precisam de apenas um tweet do Elon Musk sobre esse lançamento para gerar uma fila de espera imensa, sem nenhum custo, enquanto qualquer montadora tradicional investe milhões em mídia para divulgar seus lançamentos. É essa chave que as empresas precisam virar. Quando algo muito bom é feito pensando no consumidor, além da entrega do produto, cria-se uma base de clientes e até mesmo fãs. Isso pode acontecer a qualquer momento, seja durante uma crise ou não.

David:

O que é para você o “novo normal” do qual tanto tem se falado?


Daniela:

Eu gosto muito dessa expressão e acho importante pensarmos dessa forma, porque não temos que voltar para trás. As coisas não estavam legais. Tínhamos diversos problemas sociais, globais e ambientais, o aquecimento global no limite, as pessoas esgotadas, um número alarmante de suicídios, pessoas com síndrome de Burnout, pânico, ansiedade, deprimidas. Então as pessoas têm que ter a consciência de que as coisas não estavam bem, se abrir para o “novo normal” e se convidar a redesenhar o que não estava bom. O capitalismo claramente funcionou muito bem até agora, mas da forma que está não funciona mais, precisamos estar abertos para rever essas questões.


Sinto que o “novo normal” é um convite para essa reflexão, não se force a voltar ao que era, mesmo se você for uma empresa. Não force a volta de todos os funcionários para dentro do escritório, trabalhando por oito horas seguidas e uma pausa de uma hora para o almoço. Isso faz parte da era industrial, não precisamos mais trabalhar dessa maneira. Seguimos fazendo mímica da indústria dentro dos escritórios, trabalhando por turnos.


Nas escolas acontece a mesma coisa. Os alunos usam uniformes, o sinal soa para indicar os horários de cada turno, das pausas, todos devem obter a mesma nota. Precisamos sair desses padrões, é claro que o “novo normal” ainda não foi desenhado, mas o desafio é justamente esse. Pensar no novo.


David:

Como você vê o futuro do entretenimento com as tecnologias novas que estão surgindo?


Daniela:

Nesse momento falamos muito sobre criadores, os creators estão ganhando espaço em todas as plataformas. Vivemos um período em que falávamos de influenciadores, em que só era preciso postar uma foto no feed. Depois com a possibilidade de criar stories demos um passo a mais em direção à criação de conteúdo e agora temos novas ferramentas com essa finalidade, entre elas o Tik Tok, que hoje talvez seja a mais utilizada pelos creators, de forma simples e fácil. Eles ganharam uma importância muito grande, temos ferramentas e empresas que se movimentam justamente pelas histórias desses creators, elas existem para que eles possam contar suas histórias. Mas mesmo com novas ferramentas, sinto que elas têm o mesmo propósito das antigas, mas em formatos diferentes.


Quando falamos sobre o Tik Tok, é uma rede social para criar vídeos curtos, e conseguiram transformá-lo em um editor de vídeos também. Mas se pararmos para pensar, o vídeo é algo antigo, que mesmo com tanta evolução ainda nos prende a uma tela, de forma 2D e no formato vertical ao qual nos adaptamos, perdendo toda a noção de mundo, mas não vimos nada do que vem pela frente. Então o que eu acho interessante, que é o que veremos no futuro, é que vamos tirar o universo da comunicação e de histórias do formato de tela 2D e vamos levar para o mundo. Vamos começar a trabalhar com realidade aumentada e interagir com o ambiente. O personagem vai estar inserido nesse ambiente, onde quer que eu esteja e aí você começa a entender que a cidade inteira pode ser seu canvas, não só a tela do celular ou da televisão. Posso colocar um macaco pendurado em um prédio e ele vai estar lá, posso colocar obras de arte espelhadas pela cidade e todos vão poder olhar. Passaremos por uma revolução na qual teremos super criadores que saberão mexer nisso tudo de uma forma que até hoje não foi vista.


David:

Estava pensando sobre o Pokémon Go, foi uma febre em determinado momento, com a possibilidade de caçar Pokémon em casa, em parques, na escola. Por que você acha que isso não se desenvolveu?


Daniela:

Na verdade, o Pokémon Go é o game que mais fatura até hoje. Se não me engano o faturamento chega a 100 bilhões por ano, algo absurdo. Naquele momento ele explodiu pela tecnologia, porque era algo novo e depois ficaram os jogadores fieis. É engraçada a sensação de que não se joga mais, assim como acontece com o Fortnite. É um jogo que poucas pessoas conhecem, mas que foi cenário da maior live que já aconteceu no mundo, com 42 milhões de pessoas participando de um show dentro do jogo.


Mas voltando à tecnologia do Pokémon Go, a realidade aumentada, não é nova, mas ainda está em muito desenvolvimento. Ele foi lançado com um tipo de RA que hoje é chamado de “falso”, porque não se relacionava com o mundo. Atualmente, se você coloca o Pokémon em cima de uma cama, por exemplo, ele tem sombra, se colocar no chão, ele se adapta à altura. A tecnologia evoluiu e com isso, daqui para frente veremos muitos lançamentos utilizando essa realidade aumentada mais desenvolvida.

David:

Sei que você está montando duas start ups, uma delas é a Glimpsy. Você poderia falar mais sobre a tecnologia que vocês estão trazendo e como sua start up vai se posicionar no mercado e ajudar os creators?


Daniela:

Tem um movimento muito forte hoje que é o spacial communication. Toda a internet, em breve, vai abandonar a linearidade que existe hoje e vai cair para o mundo. Se estou andando de óculos, por exemplo, não faz sentido eu ter que ler textos, usar o Instagram da forma que usamos. Se eu receber alguma mensagem sua, eu provavelmente vou olhar, ver uma projeção sua à minha frente, você vai falar o que precisa e eu vou te responder da mesma forma.


Existe um conceito que se chama mirror world, onde está sendo construído um mundo idêntico ao nosso, mas em realidade aumentada. Basicamente, teremos duas realidades paralelas acontecendo ao mesmo tempo e vamos poder utilizar as coordenadas desse outro mundo para realizar ações, mas totalmente conectado um com o outro. O legal é quando essas duas realidades se mergem.


Entendemos que a forma das pessoas se comunicarem evolui muito. Antigamente era por escrito, através de cartas e telegramas, depois passamos a falar muito por telefone, voltamos para o texto através de SMS e Whatsapp e agora estamos seguindo para imagem. O jovem se comunica com vídeos e fotos.


O que estamos fazendo é dar um passo a mais para entrar na spacial communication, onde te permito a criação de um avatar 3D no mundo real. Você cria seu personagem como quiser, marcas também podem inserir seus personagens, e você se comunica através deles, criando movimentos, incluindo balões de texto etc. e é possível deixá-lo em algum lugar para quem passar o ver. Por exemplo, podemos criar um Ronald McDonald gigante para deixá-lo na frente do McDonald’s e quando você passa por ele, pode ver o cardápio, promoção do dia e pegar um desconto antes de entrar na loja. Ou, de repente, eu te mando uma mensagem através do meu avatar e, para você enxergar, você também precisa colocar o seu avatar naquele ambiente. Vamos supor que você esteja em um hospital, ao lado da sua esposa e o filho de vocês acabou de nascer. Você vai visualizar o avatar do seu amigo te entregando flores e dando os parabéns. O contexto da mensagem são vocês e onde vocês estão.


Há a interação com a mensagem e com o mundo real, as possibilidades são infinitas. Com a spacial communication, a rua se torna seu feed de notícias, o que existe por onde você passa entra com as novidades. É uma mudança muito grande, você sai do scroll com seu dedo no seu feed para ir andando e se conectando com o que passa por você, no seu ambiente. Ganhamos todo o mundo como possibilidade de palco para criações e criadores.


David:

Outra coisa legal é que isso tudo vai funcionar por geolocalização, certo? Não precisa de QR Code, a partir de onde você estiver você será impactado pela comunicação adequada.


Daniela:

Isso, se você entrar em um supermercado, recebe descontos, por exemplo. Eu acho interessante essa nova dimensão. Ganhamos uma nova camada para trazer a criação para o mundo real. A interação do real com o virtual é muito mais interessante do que um futuro onde ficamos presos no virtual, isolados, como por exemplo os óculos de VR.


Quando falamos de realidade aumentada, integramos as duas coisas, adicionando camadas, comunicações, personagens no nosso mundo e essa junção te dá o contexto para criar a história. Saber criar com essas duas camadas é muito novo, vai trazer skills diferentes para os novos criadores, como montar um ambiente para trazer um personagem que está aqui, mas ao mesmo tempo não está e como posso mostrar isso para o mundo? As histórias não são mais lineares, o que eu vou ver não é o mesmo que vocês, são momentos diferentes. Tem coisas que vamos ver do passado, mas que ainda estão acontecendo.


David:

Você poderia falar agora um pouco sobre o futuro da educação?


Daniela:

Acho que o tema mais complexo de entender mudanças, porque precisamos testar e para isso, as crianças precisam entrar no modelo de escola desde pequena e passe por todos os anos no mesmo modelo, para saírem formadas. Mas, sem dúvida nenhuma é o que mais precisa mudar, pois vem do modelo industrial que basicamente tem o intuito de formar mão de obra para trabalhar. As escolas hoje existem para formar pessoas para o trabalho e as escolas do futuro deveriam existir para formar pessoas para a vida, com skills diferentes. Pessoas que sabem se relacionar, que são mais diversas e que entendam sobre vários tipos de pensamento, que saibam trabalhar em grupo, criar mentores e não líderes. Essas são as chamadas soft skills que estarão conectadas ao futuro da educação.


Não faz mais sentido ensinar nas escolas o que pode ser aprendido no Google. As crianças estão conectadas e são muito rápidas, em breve estarão mais conectadas ainda, o que precisamos aprender é solução de problemas, envolvendo todos os assuntos ao mesmo tempo. Tem uma escola teste nos EUA que ensina os alunos desde pequenos a trabalhar com a solução de problemas e desenvolver as soft skills. Por exemplo, eles levam as crianças para passar uma noite em um museu e lá eles têm aula sobre um determinado tema. No dia seguinte, na escola, os professores vão apresentar um problema sobre o que ensinado e a partir daí eles precisam utilizar várias técnicas para resolver essa situação. As técnicas passam por tudo, desde geometria até engenharia. Mas ainda assim, é um tempo pouco evoluído, que tem muito espaço para desenvolvimento.


David:

Como você acha que a tecnologia do futuro pode ajudar na inclusão social?


Daniela:

Hoje, quem tem acesso à internet, tem acesso às mesmas informações que qualquer outra pessoa do mundo. Pode estar na Inglaterra ou em uma favela no Rio de Janeiro. Mesmo que a informação esteja em outra língua, o Google pode traduzir o conteúdo. Isso por si só já é algo inédito, ter acesso à informação é um passo extremamente importante que te dá milhões de possibilidades, o segundo passo é saber filtrar. Como eu posso usar essas informações? Se soubermos usá-la de forma interessante, veremos projetos incríveis surgindo tanto de pessoas com mais privilégios, quanto com menos.


Outra coisa importante é que a educação hoje é muito mais digital e isso ainda vai evoluir bastante. Sendo assim, eu evito tempo de deslocamento, que é algo que a maioria das pessoas sofre muito. Muita gente leva duas horas para se deslocar até a escola, não tem comida, a estrutura da própria escola é precária em muitos casos, então se conseguirmos dar acesso à internet para a imensa maioria das pessoas – e hoje temos grandes empresas trabalhando para isso – teremos muito mais educação e informações distribuídas e assim tornaremos tudo muito mais democrático.


David:

Você acha que o feed que o Glimpsy vai apresentar pode ser o futuro do ponto de venda?


Daniela:

Eu acho que o Glimpsy é uma das ferramentas que vai poder auxiliar o PDV, deixá-lo mais bacana e até facilitar a experiência do consumidor, mas com ou sem essas ferramentas, o ponto de venda sem dúvida nenhuma vai se tornar virtual. Eu vou poder clicar no Ronald e já pedir meu lanche, de qualquer lugar. O varejo de qualquer forma já era uma das mudanças mais anunciadas, então o ponto de venda está perdendo um bastante a sua função, o Covid-19 provavelmente acelerou isso mais ainda.

Se eu posso fazer compras online, estou cada vez mais digital e o delivery melhora o seu serviço também, o ponto de venda para a função de compra se tornar cada vez menor. Ele é muito custoso e talvez não seja tão necessário. Por outro lado, as pessoas ficam mais distantes o que pode ressignificar o PDV, fazendo com que ele se torne pontos de experiência para o consumidor, de encontro entre as pessoas e de educação. Algumas lojas mais modernas já são assim, a Apple Store, por exemplo. 95% das pessoas que estão nas lojas não estão comprando nada, estão pela experiência e para aprender a mexer nos produtos. Algumas redes de banco fecharam suas agências e transformaram os espaços em cafés. Então todas essas mudanças já eram previstas para o varejo, mesmo antes desse “apocalipse do retail”, como falamos. A realidade aumentada chega para tornar essas experiências mais interessantes com infinitas possibilidades.


O R. Talks acontece toda quarta feira, as 16h na live do Instagram @redibra.

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