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R.Talks entrevista Fernando Mendonça e Anderson Mahanski sobre a Any Malu, estrela do YouTube





A Redibra criou o R.Talks para oferecer aos seus parceiros e ao mercado um espaço de reflexão e inspiração, com visões sobre tendências e atitudes no momento delicado do COVID-19. A cada semana, o CEO da Redibra David Diesendruck entrevista um especialista nos mais diversos assuntos com uma live no Instagram da Redibra.




Para quem não teve a oportunidade de assistir a live com Fernando Mendonça e Anderson Mahanski, fundadores do Combo Estúdio e criadores da Any Malu, a primeira youtuber brasileira 100% animada, resumimos os principais pontos abordados. O tema da live foi “Any Malu: nasce uma estrela - do YouTube ao Cartoon Network”.


David: Vocês podem nos contar como começou o envolvimento de vocês com o mundo da animação?


Fernando: Na verdade, eu não consigo ver a minha história como pessoa sem esse envolvimento. Eu tive o primeiro contato ainda muito pequeno, através dos desenhos animados que passavam na TV e eu não sabia que aquilo era feito por alguém – eu achava que eles estavam vivos dentro da televisão. Mas eu sabia, desde muito cedo, que era isso que eu queria fazer, quando minha me perguntava o que eu queria ser quando crescesse (esperando que eu respondesse médico, engenheiro etc.) eu respondia que queria ser igual ao Maurício de Sousa, queria fazer desenho animado. Eu assistia TV e tentava imitar e desenhar o que via, esse contato com o mundo da animação foi muito natural para mim. Depois eu comecei também a fazer as vozes desses desenhos, o que me levou para a carreira de dublagem e de animação.


Eu sou do Rio Grande do Norte, lá não existe mercado para animação e dublagem da mesma forma que no Sudeste do Brasil, o cenário de audiovisual é aqui, então eu vim para o Rio de Janeiro e comecei a trabalhar tanto com dublagem quanto animação. Nessa época conheci o Anderson e vi que o estilo de desenho dele parecia com o meu, assim a gente se complementou. Eu tinha uma parte de ilustração e pintura que o Anderson queria desenvolver e ele tinha um traço que eu queria desenvolver também, a partir daí nossa parceria começou. Como trabalhávamos com muitas pessoas de diversos lugares do país, era comum os animadores dividirem apartamento, foi então que nossa parceria começou – inclusive, dividimos apartamento até hoje.


Anderson: Eu morava em São Gonçalo, no Rio de Janeiro mesmo, mas não tive condições de fazer curso de desenho, então comecei como autodidata. Eu estudava e trabalhava à noite para pagar meus estudos e poder ajudar minha família, mas eu desenhava todos os dias desde os 4 anos, eu sempre desenhei. Lembro que enquanto meus amigos jogavam futebol na rua aos finais de semana, eu estava desenhando e criando minhas histórias. Eu criava meus quadrinhos e entregava para a minha tia, minha primeira leitora, que dava a opinião sobre o que ela achava bom ou não. Nessa época eu trabalhava como entregador de marmitas, mas no meu jaleco eu sempre tinha um bloco de anotações para fazer anotações, desenhar e criar minhas histórias.


Em 2000 um amigo me falou que estavam analisando portifólios em um estúdio, eu levei meus desenhos e vários animadores estavam lá e começaram a passar os meus desenhos uns para os outros e me contrataram na hora. Depois disso eu não parei mais. No começo dos anos 2000 ainda não havia internet com tanto acesso, então os convites eram feitos por boca a boca e a animação ainda era um mercado pequeno no Rio de Janeiro, tinha coisas em desenvolvimento, mas não séries como hoje em dia, tudo estava muito no início. A partir daí eu fui passando de estúdio em estúdio e cheguei a fazer um longa do Mauricio de Sousa – Turma da Mônica, Uma Aventura no Tempo. Trabalhei também no longa da Xuxinha e fui cada vez mais adquirindo bagagem, mas com minhas histórias sempre guardadas na gaveta. Quando conheci o Nando, trabalhando com ele, nós começamos a dividir apartamento e, também, a ir tirando nossas ideias da gaveta.


Fernando: Na época em que nos conhecemos e começamos a trabalhar juntos, o estúdio em que trabalhávamos passou por uma baixa, isso é comum de acontecer no mercado de animação quando alguns projetos chegam ao fim, mas nós ficamos um tempo em uma incerteza, mesmo ainda no estúdio. Foi uma época muito estressante, mas animadores passam o dia desenhando e quando chegam em casa à noite e precisam relaxar um pouco, fazem o que? Vão desenhar. Foi em um desses momentos, na época e que a série Game of Thrones estava bombando, que eu fiz um desenho do Jon Snow (protagonista da série), com o lobo dele, mas no estilo Disney, que é o estilo que nós gostamos de desenhar.


Eu postei esse desenho e ele teve muitas curtidas, na época ainda no Facebook. O Anderson se animou com a quantidade de likes (inclusive, quando dizemos que Any Malu se alimenta de likes, foi dele que ela puxou isso) e resolveu desenhar a Daenerys, outra personagem de Game of Thrones. A partir daí criamos uma coleção de ilustrações, que foi o primeiro viral do Combo Estúdio, que nem existia de fato ainda, mas precisávamos dar um nome para nosso trabalho em conjunto e achamos o nome apropriado, pois já queríamos fazer um combo de coisas, aquela coleção de ilustrações foi apenas o começo.


Depois disso, algumas empresas que trabalhavam com ilustração começaram a entrar em contato com a gente para fazer alguns trabalhos freelancer, eram coisas esporádicas. Com esses freelas, o Anderson começou a trabalhar mais com a parte de produção e eu desenhando, foi daí que o estúdio surgiu, por conta da demanda que ficou muito grande e nós precisávamos supri-la de alguma forma.


Anderson: Em determinado momento – entre 2014 e 2015 – já tínhamos bastante pessoas seguindo as redes sociais do Combo Estúdio – tivemos o contato do Buzzfeed, além de pessoas de fora entrando em contato para perguntar se podiam publicar nossos trabalhos –, mas na mesma época a Madonna lançou o clipe Living for Love e eu, sendo muito fã dela, fiz um desenho inspirado nesse clipe e postei nas redes sociai, tanto do estúdio quanto no meu perfil pessoal. Alguns dias depois desse post, a Madonna compartilhou o desenho, pois houve tanto compartilhamentos entre as pessoas que acabou chegando até ela. Com isso, aos poucos o estúdio foi crescendo e ganhando forma.


Fernando: Com tudo isso acontecendo, percebemos que precisávamos de alguém que nos ajudasse na parte administrativa, porque nós somos artistas e é muito complicado para nós fazer essa parte burocrática e de contato com o cliente, nós queremos criar. Quando fizemos o clipe do Mc Koringa, que foi o primeiro trabalho do Combo Estúdio, vimos que ele tinha um empresário que fazia toda essa parte para ele e percebemos que precisávamos de alguém assim também. Foi então que o Marcelo, nosso sócio hoje, entrou para nos ajudar com toda a parte burocrática, que tínhamos dificuldade de realizar.


Anderson: É engraçado porque tudo sempre caminhou de forma muito fluida e natural, no momento exato em que precisávamos, o Marcelo surgiu para suprir essa necessidade. Tudo se encaixou muito bem.


Fernando: Nós viemos de um ciclo de amizades, tanto o Marcelo quanto o Bruno, trabalhamos também com o Maurício, que consideramos um irmão nosso – e foi quem nos apresentou o Marcelo e é um ilustrador incrível também. Por ele ser muito amigo do Marcelo, nós já tínhamos uma relação de confiança quando ele começou a trabalhar com a gente, assim como foi com o Bruno.


David: Quando falamos sobre animação, as pessoas pensam que é algo apenas para crianças e vocês fizeram a série Super Drags na Netflix e, recentemente, também desenvolveram o clipe da Pabllo Vittar, que já tem mais de 6 milhões de visualizações. De onde veio esse pensamento de fazer animação para adultos também?


Anderson: No geral, a animação é uma linguagem. Os animes, por exemplo, deixam isso muito claro, porque há anime de tudo – tanto para crianças quanto para adultos. O que varia entre essa linguagem é a forma como essa história está sendo contada e quem é o público, assim como acontece com os filmes quando possui determinadas cenas que são muito violentas ou com linguagem imprópria para crianças.


Fernando: Acontece uma generalização muito forte com relação à animação no Brasil, por muito tempo nós tivemos referências de desenhos que eu cresci assistindo, mas que não foram feitos para crianças, como é o caso de Tom & Jerry e Looney Tunes, por exemplo. Eles fumavam cachimbo, iam para a linha do trem e eram atropelados, enfim, essas animações não foram feitas especificamente para crianças, mas no geral, as pessoas encaravam assim.


Na época das locadoras era possível encontrar Family Guy na prateleira de conteúdos infantis e essa animação não é feita para crianças, inclusive tem um teor muito mais adulto do que o das Super Drags, mas as pessoas, aqui no Brasil, assimilarem muito forte desenho a crianças. Porém, como o Anderson disse, a animação é uma linguagem. É uma forma de comunicar aquilo que uma pessoa pensou e ela pode ser para crianças, para um adulto X de um nicho Y, como foi o caso das Super Drags.


Ela pode ser qualquer coisa de acordo com nossa imaginação, o que é importante ressaltar sobre a animação, é que ela traz um personagem de espírito livre. Ele pode ser qualquer coisa e eu digo coisa porque ele pode ser até um chapéu, que converse com um adulto. Quando criamos as Super Drags para a Netflix, no Brasil tivemos que fazer diversos trailers de disclaimer dizendo que a série não era voltada para o público infantil, martelamos muito nessa tecla.


O que eu acho curioso é que isso não acontece com relação a conteúdo internacional, temos Ricky and Morty e Simpsons, entre outras séries que estão no ar, mas ninguém leva isso em consideração. Eu acho que o fato de Super Drags ser um conteúdo que abrange a representatividade LGBTQI+ acabou despertando essa necessidade dos disclaimers, assim como foi com a Beyoncé, quando ela lançou o álbum Lemonade. É um pouco dessa descoberta do que é diferente.


David: Agora chegou a hora de falarmos da Any Malu, que inclusive é nossa aniversariante do dia e se tornou maior de idade hoje. Como nasceu a ideia de criar uma youtuber animada?


Anderson: Nós ainda estávamos no início do Combo Estúdio e, entre um freela e outro, nós ouvíamos alguns programas de rádio e tinha uma que nós achávamos bem legal, o Missão Impossível da Jovem Pan. Os ouvintes ligavam para a rádio, contavam algum caso complicado, que precisava de uma solução e os apresentadores ligava ao vivo para as pessoas envolvidas na situação e faziam eles conversarem entre si para resolver o problema. Era muito engraçado. Desse programa veio um insight que eu compartilhei com o Nando, pensando como seria se criássemos uma conselheira amorosa, mas animada.


Fernando: Nessa época nós já tínhamos muitos clientes, trabalhávamos há um bom tempo com alguns deles, todos estúdios de animação, mas a gente não aparecia, porque no final o crédito era do estúdio que tinha nos contratado. Lembro que pegamos trabalho de grandes produtoras e não podíamos dizer que estávamos realizando aquele trabalho e isso deixava o Combo escondido.


Foi quando comecei a pensar que precisávamos dar a nossa cara e ter algo realmente nosso. O Anderson teve essa ideia da conselheira amorosa, ainda era o começo do Youtube e, um dia, eu estava vendo a dublagem do Big Hero 6, filme da Disney, e tinha uma pessoa dublando que eu não conhecia, a Kéfera. Foi a partir daí que eu comecei a conhecer esse mundo do youtubers.


As pessoas dizem que gostam de ouvir a mim e ao Anderson falando, contando histórias etc. Quando estamos conversando em uma mesa com mais pessoas, quando percebemos as pessoas estão rindo, nós começamos a imitar vozes que dublamos, contamos histórias. Eu comecei a pensar nisso e cheguei à conclusão de que nós podíamos usar o que fazemos de melhor, que é a animação, com a forma que a gente se comunica, despojada, natural e criar uma personagem, somando à ideia do Anderson.


A Malu veio até a gente, eu não diria que foi algo que nasceu de uma conversa do tipo “temos que fazer tal coisa”. Inclusive, isso é algo que eu considero muito importante. As pessoas procuram a fórmula do sucesso e se baseiam em tantas coisas que já existem e, na verdade, o que faz você ter sucesso é a sua própria verdade. A Malu é isso, ela é a nossa verdade. Quando as pessoas nos veem conversando, é possível enxergá-la de alguma forma.


Anderson: Quando tiramos a Malu da gaveta, nós nos reunimos com todo mundo no estúdio e começamos a debater como iríamos criar o universo dela. Não podíamos simplesmente criar a personagem e colocar no ar, então debatemos sobre qual a lógica que usaríamos, o que iria existir além do quarto dela, enfim, o universo todo que envolvia a personagem.


Fernando: Eu vim do teatro e eu aprendi que podemos ter o melhor roteiro, melhores atores e o melhor diretor, mas se não tivermos público para assistir, a peça não vai ser boa. Quem vai poder dizer que ela é boa? Então desenvolvemos também um plano de marketing e tivemos uma preocupação muito grande em criar um público e gerar uma expectativa nesse público. Durante essa fase houve duas pessoas que foram muito importantes para a concepção desse plano. Um deles é o Guilherme Briggs, dublador do Buzz Lightyear, do Mickey, Optimus Prime e agora também do Scooby-Doo no novo filme. Ele esteve com a gente desde o início, inclusive, no quarto da Malu nós colocamos vários easter eggs, cada um é referência de alguma pessoa da equipe ou da produção e tem um quadro pendurado que é de um personagem do Guilherme.


Durante esse planejamento, o Guilherme disse que conhecia alguém que iria amar todo o conceito da Any Malu, que era o Felipe Castanhari, que já foi animador também. Quando conversamos e mostramos o teaser do primeiro vídeo, ele realmente amou o projeto e quis nos ajudar, sem cobrar nada, para fazer o projeto acontecer. Isso é algo que nós sentimos que era muito diferente entre televisão e internet, as pessoas se ajudam na internet. Quando a Malu chegou, ela teve a ajuda de muita gente que já estava ali, entre personalidades e youtubers que deram espaço para ela aparecer em seus canais.


O primeiro teaser da Malu que o Castanhari divulgou foi uma brincadeira na qual ela havia sequestrado ele e amarrado um piano para fazer com que ele, de bom grado, a ajudasse. Esse é o diferencial da animação, as coisas podem acontecer dessa forma. Mas é engraçado, porque a Malu é muito autobiográfica, quando esse teaser foi lançado, ele bombou tanto que nós percebemos que o que estávamos criando era muito maior do que tínhamos imaginado. Isso nos deixou muito nervoso para o lançamento do primeiro episódio, que fala exatamente sobre isso.


Anderson: Com tudo que aconteceu até lançarmos Any Malu, ficou muito claro para nós que nós precisamos estar no lugar onde as coisas acontecem.


David: Pensando no processo criativo de vocês, existe a participação do público no processo? Eles colabaram de alguma forma, ainda mais pensando que hoje a Any Malu é uma personagem multiplataformas, ela não está mais exclusivamente no Youtube?


Anderson: Tem muita participação, os vídeos do YouTube são fortes indicativos do que as pessoas gostam de ver e ouvir e lá nós temos a vantagem dos comentários. Mas o público participa muito ativamente em todas as redes, dão ideias, criam teorias, é algo muito gostoso. O fã clube da Malu é muito engajado, a gente realmente só chegou até aqui por conta deles e não são apenas crianças, tem muito adolescente e os pais também.


Fernando: Eu acho que o público sente o amor que a gente coloca no nosso trabalho, até mesmo com o fato de ser um desenho e ter um tempo maior para a criação do conteúdo, o público entende isso. O comum entre os youtubers é postar vídeos praticamente todos os dias, a Malu tem dois vídeos por mês, mas eles veem que nós fazemos assim por conta do carinho e da qualidade e, com isso, eles reagem de uma forma muito positiva. Mas o processo criativo vem muito de nós também, o público participa dizendo o que ele gostou ou não. Nós temos uma sala de roteiro e às vezes nós escrevemos, às vezes contratamos alguém para escrever.


No caso do Any Malu Show, nós fizemos uma mesa de roteiros, eu fui o show runner, recebemos as ideias e juntos fomos identificando o que seria feito. Nosso diretor de arte, o Arthur, apresentou o cenário e é muito engraçado, porque em alguns momentos parece que a Any Malu toma vida e diz o que ela quer. Quando eu vi o cenário, a primeira coisa que perguntei foi onde estavam as luzes da cidade de fundo, igual nós vemos nos programas de talk shows. Se todo programa tem, como o Any Malu Show não ia ter? A gente queria cenário, sofá para os convidados, mesa.


Em muitos momentos o nosso processo criativo vem até nós porque a verdade está ali, isso faz parte do nosso processo e, também, saber extrair o melhor de cada um que participa com a gente. Isso é um ponto importante.


David: Outra coisa que a Any Malu tem feito, como toda youtuber de sucesso, são as colaborações com outros youtubers. A mais recente foi com a Turma da Mônica, que ficou incrível e eu estou curioso para saber o que mais está vindo por aí.


Fernando: Uma coisa interessante é que quando criamos a Malu, pensamos que ela seria a personagem do mundo dos desenhos animados. Nós iríamos colocar no YouTube que ela era o link entre as pessoas e os desenhos animados, as pessoas poderiam fazer perguntas para a Malu e ela poderia perguntar, porque ela vive nesse mundo. Só que batemos de frente com os direitos autorais, então não podíamos usar nenhum personagem sem autorização prévia.


Como dublador, eu conhecia as vozes de todos os desenhos que nós queríamos trazer para o mundo da Any Malu, mas mesmo sendo para o Youtube, nós quisemos fazer as coisas da forma correta e fomos com calma. Um dia a Malu iria chegar ao ponto de poder entrevistar personagens famosos e é exatamente isso que está acontecendo. O trabalho que fizemos em conjunto com a Mauricio de Sousa, que foi uma linda homenagem deles com a Malu, para mim, ver esse crossover acontecer com os personagens que me inspiraram desde criança, que me ajudaram a aprender a ler, foi lindo demais.


Tem muita coisa para acontecer daqui para frente. No Any Malu Show, no Cartoon Network já tivemos entrevistas com o Ben 10, com as Meninas Superpoderosas entre outros personagens incríveis e agora estamos com uma parceria que eu queria muito poder falar quem é, mas ainda não posso falar, o que eu posso adiantar é que são dois convidados e que vai ser incrível.


David: Quando falamos sobre propriedades intelectuais brasileiras, falamos muito sobre os desafios de produzir conteúdo. Há vários mitos que precisamos descontruir, entre eles o tempo que um conteúdo leva para amadurecer e conquistar um público. Vocês podem falar um pouco sobre o processo da Any Malu até ela chegar onde está hoje.


Fernando: A Malu é um projeto que tem entre 5 e 6 anos de muito trabalho duro e eu, na verdade, acho que foi um tempo curto até ela chegar a esse sucesso, mas tivemos muita ajuda e toda essa programação que contamos para que isso acontecesse. O que eu acho importante é que sabemos onde nós estamos agora. Nós sabemos de onde nós viemos, não negamos nossas origens em momento nenhum, sabemos onde estamos e onde queremos chegar, o caminho que percorremos é pequeno perto do que ainda vamos ter que percorrer para chegarmos aonde queremos. Mas eu vejo que realmente acontece muito, essa ânsia de ver acontecer, nós mesmos tivemos isso no início.


Quando a Malu começou a fazer sucesso, nós queríamos camiseta, caneca personalizada, boneca etc., mas não é assim e nós tivemos a sorte de contar com a ajuda do David para entender isso. Mas agora nós já vemos muitos posts de fãs que queriam muito fazer festa da Malu e os pais acabam fazendo por conta própria. Eu acho isso tão espontâneo e bonito. Nós vimos até uma mãe que fez para as suas duas filhas uma versão de mochila da Any Malu e da Aghata.


Anderson: Durante a quarentena tivemos uma menina muito fã da Malu, que queria a festa dela de qualquer forma, a mãe preparou tudo da forma que ela conseguiu, mas ainda assim a menina ficou triste porque, por conta da pandemia, os amigos não puderam participar da festa. Isso cortou o coração dos pais dela, que nos mandaram uma mensagem pedindo para a Any Malu mandar um recado para a filha de surpresa. Nós falamos com a Natali, que é a dubladora e ela gravou a mensagem e mandou. Foi muito legal, a menina disse que foi o melhor presente de aniversário que ela ganhou.


Fernando: Temos muitas histórias legais e bonitas que envolve a Malu, pessoas que pedem áudio, que enfrentaram casos de depressão com a ajuda dela. Quando a gente para e pensa nessas situações, chegamos à conclusão de que por essas coisas, já valeu demais todo o esforço para transformar esse projeto em realidade. Foi muito esforço, muito sacrifício, noites sem dormir. É como ter um filho mesmo, no começo a gente não dorme de jeito nenhum, cuidando dessa menina o tempo inteiro. E ela já nasceu com 18 anos, mandando na gente.


David: Hoje vocês fazem conteúdo da Any Malu para o canal dela no YouTube, para o Instagram, para o Cartoon Network, tanto TV quando Youtube e agora também no TikTok. Cada plataforma tem suas características de formato e linguagem, como é desenvolver tantos conteúdos diferentes de maneira consistente?


Anderson: O que aprendemos trabalhando com tantos projetos é que a gente nunca sabe qual vai ser o que vai explodir e fazer sucesso, então, qualquer coisa que nós criamos é sempre com o mesmo carinho e cuidado, pensando desde o começo como trabalhar um possível desdobramento para diversas plataformas e garantindo que vamos ter conteúdo para trabalhar.


Fernando: A Malu tem assunto para qualquer plataforma, se surgir uma rede social nova, a gente vai dar um jeito de fazê-la chegar até lá. Eu acho que isso é muito natural, é parte da personalidade dela. Ela gosta de aparecer, ela tem o que falar, inclusive o fato de ela ser “ela”, foi uma decisão importante para nós. Nós queríamos que fosse uma menina para inspirar outras meninas, havia muitos youtuber homens.


Nós olhamos para cada plataforma individualmente, vemos como ela se comunica e, embora ela tenha o mesmo assunto, em cada lugar ela se comunica de uma forma diferente. Nossa origem como animadores foi na televisão, quando fomos para a internet, tivemos que readaptar nosso estilo de animação. Na TV tem um tempo de pausa, de pensar, os personagens falam com uma intenção diferente, quando fomos para a internet tivemos que entrar nessa linguagem. Agora estamos voltando às nossas origens, mesmo levando um pouco da linguagem da internet para o programa da Malu no Cartoon Network, mas sabemos como ela tem que se portar em um programa na televisão. Não à toa, o programa dela está em segundo lugar de audiência e batalhando para conseguir o primeiro.


David: Falando de planos futuros, além do TikTok, tem mais alguma novidade que vocês podem compartilhar com a gente?


Anderson: O que eu posso dizer é para vocês seguirem as redes sociais da Any Malu, porque tem muita coisa prestes a acontecer, mas ainda não podemos divulgar.


Fernando: Algo que eu queria falar aqui é que o Combo está crescendo e durante a pandemia não perdemos nenhum funcionário, todo mundo está trabalhando de casa, não tivemos que reduzir salário de ninguém. Mas para quem está nos assistindo e tem vontade de trabalhar nessa área, se especialize.


Faça cursos, inclusive, faça o curso do Combo Estúdio porque nós precisamos de profissionais capacitados, para quando surgir um projeto grande nós sabermos onde encontrar. Isso aconteceu recentemente quando fizemos um projeto da Netflix, tivemos que correr atrás de pessoas para montar uma equipe em cima da hora e não encontramos tanta gente capacitada no mercado. Estudem animação, sejam animadores, nós precisamos de vocês.


David: A Redibra está começando agora um trabalho de extensão da marca Any Malu, vocês tiveram um crescimento incrível em um período muito rápido de tempo e que aconteceu por causa da base de fãs da Any Malu, que quer ter contato com ela em todas as plataformas.


Uma dessas plataformas, que é onde a Redibra entra, são os produtos, que de certa forma também são um ponto de contato e engajamento com os fãs. Quais são as expectativas de vocês com relação a esse trabalho?


Anderson: Tem muita gente que entra em contato a gente perguntando sobre cadernos, mochilas, roupas da Malu e nós também queremos muito ver tudo isso se tornando realidade.



Fernando: Na verdade, eu queria agradecer muito à Redibra por esse trabalho tao bem feito. Antes de chegarmos até vocês, passamos por outras agências, mas eu nunca vi um carinho tão grande e tanto envolvimento em todo o processo, como se fôssemos nós mesmos criando. Nós estamos muito felizes e temos muita confiança no trabalho que está sendo feito e com os produtos que estão para chegar. Como criadores, é muito importante ver o respeito que vocês têm pela nossa opinião e por criar em conjunto. Vai ser muito bonito o dia que eu ver alguém usando algum produto da Any Malu.


David: Para encerrar, eu gostaria pedir para vocês uma mensagem final.


Anderson: Eu vou parafrasear a Dory, de Procurando Nemo que fala continue a nadar. Continue a desenhar, continue a animar, a trabalhar. Não podemos desanimar, mesmo vivendo um momento tão complicado, temos que ter foco e nos preparar para o que estiver por vir.


Fernando: Uma coisa que eu sempre falo é para que as pessoas apoiem os artistas. Quem conhecer alguém que trabalhe com arte, apoie essa pessoa. Quando eu olho para trás, vejo uma história que foi difícil, mas que não tinha necessidade de ter sido assim. O Brasil é um país complicado para o artista, ele já se cobra demais, então ao invés de desmotivá-lo, apoie. Já vimos muitos colegas incríveis desistirem de seus sonhos por falta de apoio.

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